Queixas por falta de segurança em linha do Metrô onde ambulante foi morto crescem a cada ano

    De 2011 para 2016, número de reclamações na linha 3-Vermelha, onde o vendedor Índio foi morto na noite de Natal, saltou de 162 para 503

    O espancamento que resultou a morte do vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, o Índio, de 54 anos, na noite de Natal, dentro da estação Pedro II da linha 3-Vermelha, além de ter chocado quem o assistiu através das imagens captadas pelas câmeras de monitoramento instaladas próximas à bilheteria, evidencia uma reclamação constante de passageiros que utilizam o ramal: a falta de segurança.

    Dados obtidos pela Ponte Jornalismo através da Lei de Acesso à Informação indicam que, nos primeiros nove meses deste ano, foram encaminhadas ao Metrô 503 reclamações quanto à segurança pública na linha que liga a Barra Funda, na zona oeste, à Itaquera, na zona leste. A quantidade é bem maior do que as 322 queixas registradas em todo ano anterior. O crescimento salta ainda mais aos olhos se observado os números anteriores. Foram 235 em 2014, e 174 em 2013.

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    Dos cinco ramais sob responsabilidade do Metrô, a linha 3-Vermelha é a recordista nas reclamações relacionadas ao tema. Superando até mesmo a linha 1-Azul, que possui cinco estações a mais em toda sua extensão. De janeiro a setembro deste ano foram 317 queixas relacionadas à segurança no trecho que liga o Jabaquara, na zona sul, ao Tucuruvi, na zona norte.

    Ambulante Luís Carlos Ruas tinha 54 anos e foi morto na noite de natal dentro do Metrô de SP - Foto: Arquivo Pessoal
    Ambulante Luiz Carlos Ruas tinha 54 anos e foi morto na noite de natal dentro do Metrô de SP – Foto: Arquivo Pessoal

    Ruas, um homem negro de cabelos grisalhos foi assassinado pelos primos Alípio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, 21, a golpes de soco inglês e chutes na cabeça sem que nenhum funcionário do Metrô intercedesse em favor da sua vida.

    De acordo com a estatal, administrada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), os agentes de segurança demoraram seis minutos para chegarem ao local. Nesse intervalo de tempo, os acusados, que já estão presos, tiveram a chance de tentar mais um homicídio dentro da estação e outro no entorno. Suas outras vítimas eram um homossexual, conhecido como Brasil, e a travesti Raíssa.

    Funcionários ouvidos pela reportagem da Ponte relataram que as escalas normais de segunda à sexta-feira os fazem, em duplas, serem responsáveis por rondas e fiscalizações em até três estações, número que pode dobrar para seis estações durante finais de semana e feriados, como no dia da morte de Ruas. Outro fator que pode diminuir o efetivo é quando há necessidade de um deslocamento externo, como, por exemplo, levar um passageiro ao hospital após um acidente em vagão ou plataforma.

    Alípio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21, suspeitos de matarem Luiz Carlos Ruas, de 54, em estação de metrô - Foto: Divulgação
    Alípio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21, suspeitos de matarem Luiz Carlos Ruas, de 54, em estação de metrô – Foto: Divulgação

    Para o sindicato dos Metroviários, a culpa da falta de agentes de segurança é do “sucateamento” promovido pelo governador Geraldo Alckmin para justificar uma possível privatização das linhas de Metrô, assim como já aconteceu com a linha 4-Amarela, e futuramente com a linha 5-Lilás. “De 2004 para cá o número de funcionários da operação cresceu 18% e o número de usuários 60%”, afirma o sindicato à reportagem.

    Indagada sobre a falta de segurança na linha 3-Vermelha, a assessoria de imprensa do Metrô, através de nota, informou que possui 1.100 agentes de segurança. Destes, 40% trabalham no ramal. No entanto, a estatal deixou de responder uma série de questionamentos, como quantos funcionários estavam escalados na noite do crime, e em que estações estavam para terem demorado tanto no auxílio a Ruas.

    Anteriormente, o Metrô também informou que seus agentes prestaram o primeiro atendimento e levaram a vítima com vida, em sua própria ambulância até o PS Vergueiro, na Aclimação, região central. Por sua vez, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que o homem já deu entrada na unidade morto.

    Veja, abaixo, os questionamentos encaminhados ao Metrô de São Paulo:

    1) Quantos agentes de segurança trabalhavam no monitoramento de toda linha 3-Vermelha na noite de 25 de dezembro?

    2) Em quais estações estavam os agentes no dia 25 de dezembro?

    3) Qual o motivo da demora na chegada de agentes?

    4) Qual motivo para a estação Pedro II, que está em uma região escura, com problemas de segurança em seu entorno, não ter agentes trabalhando no local, mesmo com grande fluxo de passageiros que se dirigem aos terminais Parque Dom Pedro II e Mercado?

    5) Qual cálculo é feito para que uma estação tenha ou não segurança fixa ou uma quantidade maior de agentes?

    6) Quantos funcionários do Metrô estavam na estação Pedro II no momento do ataque? Quais eram suas atribuições?

    7) Depois do acontecido, o Metrô pensa em reforçar sua equipe de agentes?

    8) O sindicato dos Metroviários acusa o Metrô de falta de funcionários para trabalhos na segurança, como a companhia exerga isso?

    Leia na íntegra a nota do Metrô de São Paulo:

    “O Metrô de São Paulo atende diariamente 4,6 milhões de pessoas, um significativo contingente superior às populações de mais de 150 países. O número de ocorrências de segurança pública é de apenas 1 por milhão de passageiros transportados, média dos últimos 4 anos. O Metrô trabalha firmemente para reduzir ainda mais esse índice. Neste ano, 63% dos autores de crimes cometidos em suas dependências foram detidos.

    O crescente número de manifestações se deve às campanhas realizadas pela Companhia, entre elas, de assédio sexual e de combate ao comércio ilegal, e também pela ampliação e criação de canais de relacionamento com os usuários, como redes sociais e SMS Denúncia, o que possibilita uma participação mais efetiva dos passageiros.

    O Metrô possui um contingente de 1100 Agentes de Segurança no sistema metroviário, trabalhando em turnos de revezamento, sendo que na linha 3 -Vermelha, concentra em média 40% desse efetivo.”

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