Filipe Ferreira gravava manobras de bicicleta em parque para seu canal no Youtube quando policiais o abordaram com arma em punho e o algemaram em Goiás
Enquanto gravava manobras de bicicleta em um parque para seu canal no Youtube, o ciclista Filipe Ferreira aparece em imagens sendo abordado por dois policiais militares em Cidade Ocidental (GO), nesta sexta-feira (28/5). Sem motivo e em arma em punho, um dos PMs manda Filipe se afastar da bicicleta, que questiona o porquê, e recebe como resposta: “porque estou mandando”.
Filipe retruca que “não é assim, não”, já pegando o celular e posicionando para filmar a abordagem, e o policial grita: “oxe, como é que é? põe a mão na cabeça”. O ciclista pergunta várias vezes o motivo de estar sendo abordado e ter uma arma sendo apontada para ele e o PM insiste em mandá-lo colocar a mão na cabeça, sem respondê-lo. “Se você não obedecer, você vai ser preso”, ameaça o PM. Filipe questiona o tratamento e tira a camisa para mostrar que não está armado. “Estou só dando meu rolê de bike”, afirma.
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Em seguida, ele vira de costas e coloca a mão na cabeça. O policial diz que vai algemá-lo. “Vou te algemar porque você não obedeceu a ordem legal que eu te dei”, grita. “Resiste aí para ver o que vai acontecer contigo”, ameaçou. O ciclista questiona o uso de algemas e fala: “sou trabalhador, por que está fazendo isso comigo? eu só estou filmando, eu tenho um canal no Youtube”.
O PM alega no vídeo que se trata de procedimento previsto na corporação, mas em nenhum momento explica a motivação da abordagem e por que aponta a arma e algema o ciclista, que não oferece resistência. O POP (Procedimento Operacional Padrão) da PM de Goiás, cuja edição mais recente foi revisada em 2014, determina que os policiais respeitem e verbalizem claramente à pessoa a motivação da abordagem, com o armamento direcionado para o chão (chamado de posição sul), sem apontar a arma de forma desnecessária. Uso de algemas também só deve ser feito apenas com receio de fuga ou resistência.
O vídeo foi publicado por Filipe nos stories do seu Instagram e viralizou em outras redes sociais. Diversos comentários revoltados com as imagens apontaram a discrepância de tratamento das forças de segurança pública em abordagens contra negros e brancos. “Alguma vez esta abordagem policial violenta já aconteceu com um jovem branco de bike no parque Ibirapuera ou numa praça no Jardim Europa em SP?”, escreveu o professor da FGV Thiago Amparo.
“Não adianta apenas a criação de ‘protocolo’ em uma instituição estruturada pelo racismo, criada para o controle e violência contra os corpos negros”, postou a secretária-adjunta de Segurança Pública de Diadema (Grande SP) Tamires Sampaio.
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Um dos casos que voltou a ser comentado foi da abordagem do empresário branco Ivan Storel, em maio do ano passado, morador de um condomínio em Alphaville, bairro rico em Santana do Parnaíba (Grande SP), que resistiu à prisão e xingou policiais militares que foram atendidos para uma denúncia de violência doméstica. “Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um bosta”, ofendeu na época os PMs, que gravam o empresário e ficam distantes, sem esboçar reação. A esposa do empresário, na época, desistiu de prosseguir com a denúncia de agressão. O Ministério Público Estadual chegou a acusá-lo por desacato e resistência. A Ponte tentou acessar o andamento do processo, mas está em sigilo no Tribunal de Justiça de São Paulo.
A reportagem tentou contato com Filipe, mas não teve resposta.
O que diz a polícia
A Ponte procurou a assessoria de imprensa da Polícia Militar de Goiás e questionou a abordagem dos policiais.
Em nota*, a corporação não respondeu às perguntas e disse que “fato está sendo apurado” e “caso seja comprovado qualquer tipo de excesso, as providências legais serão tomadas”.
*Reportagem atualizada às 23h13, de 29/05/2021, para incluir nota da PMGO.
Correções
Reportagem atualizada às 23h13, de 29/05/2021, para incluir nota da PMGO.
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