Testemunhas afirmam que acusado preso pelo crime não consegue correr, segundo advogado; Justiça de SP aceitou denúncia por homicídio triplamente qualificado
Um novo vídeo mostra o provável assassino de um morador de rua que morreu queimado na Mooca, zona leste de São Paulo, fugindo correndo pela rua Etiópia segundos após o crime.
As imagens serão usadas pela defesa do também morador de rua Flausino Cândido Filho, 49 anos, o Buiú, preso acusado de ser o assassino, com o objetivo de provar a inocência dele.
Segundo o advogado Márcio Araújo, Buiú é uma pessoa de saúde debilitada e tem dificuldade de mobilidade. No dia 14 de janeiro, o ouvidor da Polícia de SP, Benedito Mariano, contou à Ponte que testemunhas procuraram o órgão para defender a inocência de Buiú. Segundo Mariano, uma das testemunhas é moradora do bairro e afirmou o mesmo que o defensor: que o acusado “tem os pés inchados e dificuldade de se locomover, e não teria condições de correr”, como mostram as imagens do momento da fuga do autor do crime.
Flausino foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de São Paulo pelo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, uso de meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima) de Carlos Roberto Vieira da Silva, 39, na madrugada do dia 5 de janeiro na calçada da rua Celso de Azevedo Marques, em frente ao supermercado Dia.
A Justiça de SP aceitou a denúncia nesta terça-feira (4/2) e decretou a prisão preventiva do agora réu, que está preso desde 8 de janeiro e, segundo a Polícia Civil, teria confessado que o crime foi motivado por vingança. Na versão da investigação, a vítima teria furtado R$ 10 mil do suspeito.
Além do vídeo, outro argumento que será utilizado pela defesa é contestar a suposta confissão. O advogado Marcio Araújo destaca que Flausino, embora tenha 49 anos, é aposentado por invalidez. Segundo um relatório médico para a retirada do Bilhete Único para deficiente em São Paulo, emitido em 2009, Flausino tem “epilepsia, com transtorno mental e prejuízo cognitivo”. O defensor pretende argumentar à Justiça que a suposta confissão é frágil e não pode ser considerada como prova. Na semana passada, segundo Araújo, Buiú chegou a dizer a ele que não tinha cometido o crime e que acabou confessando por medo.
Até o momento, a defesa entrou com dois pedidos de habeas corpus, ambos negados. Segundo o TJ-SP, um deles ainda aguarda recurso.
De acordo com o promotor de Justiça Romeu Galiano Zanelli Júnior, tanto a vítima quanto o réu viviam em situação de rua e já haviam tido desentendimentos anteriores. “De acordo com o apurado, Silva teria ameaçado, agredido e xingado Candido Filho, além de haver furtado dinheiro pertencente ao réu. Com desejo de vingança, Candido Filho resolveu matar a vítima e, para tanto, esperou que o homem adormecesse sob uma marquise, jogou gasolina em seu corpo e ateou fogo, fugindo em seguida”, diz nota do MP sobre o teor da denúncia. O caso corre sob segredo de Justiça, segundo nota do TJ-SP.
Flausino Candido Filho foi transferido para o Centro de Detenção Provisório Belém I, na zona leste de SP, na tarde desta quarta-feira (5/2).
Sobre a veracidade da confissão e as declarações de que o suspeito pode ser inocente, questionamentos feitos pela reportagem à Secretaria de Segurança Pública de SP ainda no dia 29/1, a pasta informou, em nota, que as investigações conduzidas pelo 18º DP (Alto da Mooca) e que “o autor foi identificado, reconhecido por testemunhas, confessou o crime e teve o pedido de prisão temporária deferido pela Justiça. A autoridade policial ouviu uma das testemunhas apontadas pela Ouvidoria e solicitou a qualificação da outra à instituição para ouvi-la. Até o momento, no entanto, não há nenhuma alteração no resultado das investigações”.