Vídeos mostram como a PM trata mulher branca que o ofende e agride pessoas na periferia

    Especialista afirma que “as duas cenas são lamentáveis”: na primeira, PM é humilhado e não reage; na segunda, policial ignora estar sendo filmado e bate em mulheres

    Dois vídeos obtidos pela reportagem mostram a Polícia Militar de São Paulo em duas ações distintas e que revelam a flagrante diferença de tratamento em regiões ricas e na periferia. No primeiro, um policial militar é humilhado por mais de dois minutos por uma mulher branca, que, de dentro do seu carro, grita ofensas e até ameaças. O PM, calmo, tenta argumentar alguma coisa, mas desiste e nada faz.

    “Você sabe que você fez cagada. Lixo é você”, grita a mulher. O PM responde que não falou nada, mas continua ouvindo ofensas. “Você entrou na polícia agora. Para mim você é um merda, um bosta, eu vou te foder. Você pensa que é o que? Você xingou a minha amiga. Bosta é você”.

    A mulher fala que o policial não pode ofender ninguém. Ele retruca que irá multá-la. “Só porque você tá com o revólver aí. Você é um bosta que ganha mil reais. Um bosta que acabou de entrar na polícia, nem estudo você tem. Isso corrói você. Pode me multar, eu pago”, continua a mulher. O policial, então, fala que abrirá uma ocorrência contra ela, que, em responder nada, fecha a porta do carro. “Nem estudo você tem”, continua.

    Leia também: Por que a polícia se curva ao branco rico de Alphaville e é violenta na periferia

    A imagem remete ao episódio ocorrido no final de maio em um condomínio rico de Alphaville, na Grande São Paulo. Policiais militares foram acionados para atender um caso de violência doméstica e o suspeito, um homem branco, tentou enxotá-los com muitos xingamentos, alguns até parecidos com os da moça branca. “Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um bosta”, gritou o empresário.

    É possível, pela farda, identificar que o policial é da PM paulista, mas não há maiores detalhes de local e data dos fatos.

    Em outro vídeo, que teria sido gravado na rua Amaravati, no Jaraguá, periferia da zona norte da cidade de SP, policiais são flagrados agredindo uma mulher. A violência não cessa nem quando moradores alertam que estão filmando.

    No começo do vídeo, um homem é agredido por um PM. Duas mulheres, então, entram na frente para proteger a vítima, e passam então a ser agredidas. Os moradores que estão gravando o vídeo começam a gritar que estão filmando a cena. “Não é dessa forma não, hein?! Não pode agredir mulher, vacilão”.

    Dois policiais entram na casa junto com as três pessoas, enquanto os vizinhos continuam gritando. “Tem criança deficiente aí nessa casa”. Os policiais saem depois de jogar spray de pimenta dentro da casa. Uma das viaturas recua, mas um dos policiais continua na frente da casa. Os moradores gritam que o PM é um soldado e os dois policiais recuam e as duas viaturas vão embora.

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    A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo e a Polícia Militar para obter mais informações dos casos, como locais e datas que aconteceram, mas não obtivemos retorno.

    Para o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os dois casos são lamentáveis e mostram “que precisamos melhorar, e muito, a relação entre polícia e sociedade”.

    “O primeiro vídeo, por mais que a gente não tenha uma noção do que aconteceu, de uma forma geral, é completamente inaceitável a forma com que aquela senhora de dirigiu ao policial militar”, aponta Alcadipani.

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    O professor aponta que o policial deveria ter chamado reforço e encaminhado a mulher para uma delegacia por desacato. “Alguns policiais cometem abusos, mas isso não justifica uma pessoa tratar um ser humano dessa maneira, falando sobre dinheiro. É um caso inaceitável, de desrespeito”, avalia.

    Já no segundo vídeo, Alcadipani aponta que “a polícia não pode tratar nenhum cidadão daquela maneira. Um policial batendo em uma mulher sem seguir nenhum protocolo ou procedimento”, aponta.

    “O Corregedor da Polícia Militar tem que agir para evitar que policiais assim continuem nas ruas. Tem que ter um trabalho, também, para mudar a subcultura da polícia, que permite que isso aconteça”, analisa.

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