Polícia prende ex-policial civil que sequestrou enteado de Marcola, líder do PCC

    Augusto Peña foi condenado a 22 anos de prisão por sequestrar Rodrigo Olivatto de Morais com a ajuda do também ex-policial José Roberto de Araújo; ação foi um dos estopins para os ataques de maio de 2006

    Augusto Peña (destaque) está preso em delegacia de Ibaté, cidade no interior de SP | Fotos: Divulgação

    A Polícia Militar prendeu nesta terça-feira (9/4) o ex-policial civil Augusto Peña, condenado a 22 anos de prisão pelo sequestro de Rodrigo Olivatto de Morais, enteado de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo MP (Ministério Público) de São Paulo como líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital).

    Peña foi condenado em 7 de abril de 2015 pela 1ª Vara Criminal de Suzano, na Grande São Paulo, e estava foragido até então. Ele foi capturado na rua Visconde de Pelotas, no bairro São Benedito, no município de Ibaté, distante 247 km da capital paulista.

    Além dele, a Justiça também havia condenado o ex-policial civil José Roberto de Araújo pelo sequestro de Rodrigo. A vítima é filho da advogada Ana Maria Olivatto, ex-mulher de Marcola. Ela foi assassinada em outubro de 2002, em Guarulhos, cidade na Grande São Paulo.

    Um relatório elaborado pela International Humans Rights Clinic em parceria com a Justiça Global concluiu que o sequestro de Rodrigo foi um dos estopins para os ataques de maio de 2006, protagonizado pelo PCC. O período ficou conhecido como “Maio Sangrento”. O PCC paralisou São Paulo, matando agentes das forças de segurança nas ruas e se rebelando em ao menos 74 presídios paulistas. Simultaneamente, policiais militares mataram centenas de pessoas no estado, no chamado “Crimes de Maio”.

    O assassinato de Ana causou uma guerra sangrenta e o primeiro grande racha no PCC. Dois fundadores da facção, até então vivos, César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião, foram expulsos da organização. Marcola assumiu poder.

    A mulher de Cesinha, Aurinete Carlos Félix, foi acusada de ser mandante da morte de Ana. Isso, no entanto, não ficou provado. A nova liderança do PCC matou dezenas de aliados de Cesinha e Geleião, tanto na prisão como nas ruas. Cesinha foi morto na Penitenciária 1 de Avaré em agosto de 2006.

    Rodrigo trabalhava em uma empresa de telefonia em Guarulhos quando foi sequestrado pela equipe de Peña, em março de 2005. Segundo o Ministério Público Estadual, a vítima foi levada para a Delegacia Sede de Suzano e apresentada para outros policiais como um troféu: “Esse aqui é o enteado do Marcola”, afirmou um dos policiais dentro da delegacia, usada como cativeiro de Rodrigo.

    Na delegacia, os policiais aterrorizaram Rodrigo. Deram a ele um telefone celular e exigiram que ligasse para algum integrante do PCC. O aparelho era de uma advogada que defendia clientes da cúpula da facção. Investigadores obrigaram Rodrigo a ligar para um preso do PCC para avisar que precisava falar urgente com Marcola. Rodrigo cumpriu a ordem e ligou para uma prisão onde estava Marcola. Os policiais exigiram R$ 1 milhão para libertá-lo. Enquanto o dinheiro não chegava, o enteado de Marcola ficou no cativeiro, dentro da delegacia.

    Depois de horas de negociações, o valor foi reduzido para R$ 300 mil. Uma advogada, defensora de presos da liderança da facção, entregou o dinheiro aos policiais em uma sala na Delegacia Sede de Suzano. Peña e outros policiais também foram acusados de tentar extorquir outros líderes do PCC, inclusive Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, assassinado junto com Fabiano Alves de Souza, o Paca, em fevereiro do ano passado, em Fortaleza, Ceará.

    O sequestro de Rodrigo e as outras extorsões cometidas pelos policiais foram denunciadas ao Ministério Público pela ex-mulher de Peña, Regina Célia Lemes de Carvalho. Peña e Araújo foram presos em 30 de abril de 2008. Em 5 de janeiro de 2010, a 15ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, em votação unânime, mandou soltar os policiais.

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