PM atira em jovem na rua e assusta comunidade

    Segundo moradores, três pessoas estavam em rua da zona leste de SP, quando polícia chegou atirando; em fevereiro, Rota matou jovem dentro de casa no mesmo local

    Viaturas da PM e da Polícia Científica horas após as mortes | Foto: Arquivo/Ponte

    Ao fim da rua Salinas do Açu, no Jardim Lapena, zona leste da cidade de São Paulo, uma viela dá início à favela homônima. Durante ação policial na manhã desta sexta-feira (5/6), uma pessoa acabou baleada. Segundo relatos de moradores, três pessoas teriam corrido ao ver a chegada da PM, que efetuou diversos disparos.

    Quem vive na área acordou com barulho de tiros por volta de 6h40, quando parte das pessoas saía para o trabalho, apesar da quarentena por conta do coronavírus. A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) confirma a ação policial e uma vítima baleada.

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    Um homem deixava a casa com sua filha quando ouviu seis tiros. “A polícia entrou e logo ouvi”, conta à Ponte, sob a condição de não ser identificado. Havia uma espécie de lei do silêncio quando a reportagem chegou ao local nesta sexta-feira, por volta de 13h30.

    A duas quadras do início da favela fica a estação São Miguel da linha 12- Safira, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Trabalhadores passam por ali até chegarem até suas casas.

    Os homens estavam em dois lugares, como diz uma testemunha: um deles na travessa Roland Berigan, que cruza a favela, e os outros dois na rua Doutor Almiro dos Reis, conhecida entre as pessoas como “rua da feira”.

    A insegurança era nítida nos olhares de quem estava apenas de passagem no local. “Não moro aqui, não. Só vim entregar um negócio”, respondeu uma pessoa quando questionada sobre as mortes. “Nós não somos moradores, viemos entregar mensagens para as pessoas”, disseram dois homens, que explicaram integrar uma igreja e não saber “do que tinha acontecido”.

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    Outro homem falou à Ponte que não é novidade ter ação da polícia na favela. Relembrou da morte de Renato Vieira Cruz, 39 anos, dentro de sua casa, em 27 de fevereiro deste ano, exatamente na mesma rua: Salinas do Açu. O homem estava em sua casa, quando policiais alegaram ter confundido um “volume” em sua calça com uma arma e o balearam. Renato não resistiu.

    As viaturas das polícias Civil, Científica e Militar, incluindo policiais do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), já não estavam mais na Salinas do Açu quando a reportagem chegou. Estiveram na região pelo menos até 12h30, conforme informado por moradores à Ponte.

    Segundo uma moradora, o veículo da perícia permaneceu por pouco tempo. Os peritos foram até os dois pontos em que as pessoas teriam sido baleadas e, depois, retornaram. “Ficaram falando com os PMs. Até onde dá para confiar que não estava tudo armado?”, questiona.

    “E ontem tinha policiais civis aqui, né?”, comenta um morador, sem saber dizer qual denúncia os policiais estariam investigavando. “Entraram, ficaram andando de um lado para o outro”, conta.

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    A Ponte questionou a SSP, liderada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre a ação no Jardim Lapena. Segundo a pasta, não houve ocorrência de mortes no local nesta sexta-feira, apenas uma pessoa baleada.

    “Policiais militares realizavam uma ação na Rua Salinas do Açu, no Jardim Lapena, quando um indivíduo entrou em confronto com os agentes. Ele foi baleado e socorrido ao Pronto Socorro Ermelino Matarazzo, onde permaneceu internado”, garante a SSP, dizendo que o homem tinha uma arma e porções de droga.

    A reportagem esteve em duas delegacias, 22ºDP (São Miguel) e 63º DP (Vila Jacuí), e policiais civis das duas unidades informaram que a ocorrência não foi registrada em nenhuma delas. Contudo, a SSP explicou que o 63º DP é responsável pelo caso e lá estava sendo feito o B.O..

    Além da secretaria, a Ponte também perguntou à PM se houve alguma ação da tropa na rua Salinas do Açu e na favela nesta manhã. No entanto, a corporação não respondeu ao pedido até a publicação da reportagem.

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