Colegiado militar aceitou pedido do MP, que classifica a liberdade dos acusados como um “perigo”; policiais cumpriram 72 dias de prisão entre maio e julho
A Justiça militar de São Paulo determinou nova prisão dos sete PMs investigados por participarem da morte de David Nascimento dos Santos, 23 anos, em 24 de abril, no Jaguaré, zona oeste da cidade de São Paulo.
O colegiado acolheu pedido do MP (Ministério Público), que considerou “desastrosa” a soltura dos acusados em julho. Ao magistrado Ronaldo João Roth, que comanda os trabalhos, solicitou nova prisão.
Leia também: Morto após abordagem da PM vendia bala no farol e sonhava em ser cantor
Por três votos a dois, determinaram nova prisão dos policiais, que se encontram novamente no Presídio Militar Romão Gomes, zona norte da capital paulista.
Em sua argumentação, o órgão classificou a atitude dos PMs na ocorrência como “afronta aos princípios da hierarquia e disciplina”, além da “ordem pública”.
O MP ainda ressalta a “periculosidade dos réus” para basear a nova prisão. “É inafastável o perigo que os acusados representam estando em liberdade”, defende o promotor Edson Correa Batista.
Os policiais ficaram presos por 72 dias, de 3 de maio até 14 de julho, sendo libertados em decisão do colegiado do TJM (Tribunal de Justiça Militar) que julga o crime.
Para o MP, os sete PMs do Baep (Batalhão de Ações Especiais) sequestraram David no dia 24 de abril na Favela do Areião, na zona oeste da cidade de São Paulo.
David esperava a entrega de um lanche que comprou pelo aplicativo iFood. Imagens de câmera de segurança mostram quando a viatura da PM chega, os policiais o abordam e o colocam dentro da viatura.
O corpo do homem foi encontrado na Favela dos Porcos, vizinha do Areião. De acordo com o MP, os policiais trocaram a roupa de David para parecer com a descrição de suspeitos de roubar um carro na região.
Leia também: PMs acusados de matar David mentiram em depoimento, diz testemunha
Respondem pelo crime os policiais do Baep 1º sargento Carlos Antonio Rodrigues do Carmo, 2º sargento Carlos Alberto dos Santos Lins, cabo Lucas dos Santos Espíndola, cabo Cristiano Gonçalves Machado, soldado Vagner da Silva Borges, soldado Antonio Carlos Rodrigues de Brito e soldado Cleber Firmino de Almeida.
Advogado dos PMs, Mauro Ribas discorda da decisão do colegiado por entender que seus clientes não oferecem risco estando em liberdade. “Medida totalmente descabida, fora da realidade processual. Porque os policiais estão soltos desde julho, não houve prejuízo algum no processo”, defende.
Segundo Ribas, “absolutamente ninguém” foi ameaçado e os PMs estavam em serviço administrativo na área de Santo André (Grande SP). “Ou seja, fora da região onde aconteceram os fatos”, afirma.
O defensor sustenta que não irá recorrer da decisão do colegiado. “Neste primeiro momento, não. Trataremos das provas e, encerrando o inquérito, analisaremos as medidas a tomar”, afirma.
Advogado que representa a família de David, Raphael Blaselbauer considerou a nova prisão dos PMs como “nada mais é do que a medida de rigor, cabível para o caso”.
“Os crimes praticados pelos policiais são gravíssimos. Além do crime de homicídio, há o remanescente de outros crimes sérios, como fraude processual, falsidade ideológica e organização de grupo para a prática de violência”, sustenta.
Por meio do advogado, a família “manifesta apoio à decisão, e segue confiante na condenação dos assassinos do David”, segundo Raphael.
A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo João Doria (PSDB), sobre a decisão do TJM. A reportagem não recebeu uma resposta até a publicação desta reportagem.
[…] Publicado originalmente na Ponte: […]