Governo Doria afirma que vítima “reagiu à abordagem dos policiais”, embora tenha sido morto dentro de casa durante a madrugada
Joabson Ramos de Lima, 32 anos, conhecido como Tota, foi morto dentro de casa por policiais militares à 0h40 deste domingo (19/4), na rua Afonso de Oliveira Santos, no Jardim Colombo, na favela de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo. A morte ocorreu dois dias após um soldado da PM ser assassinado, a 750 metros dali.
A irmã de Tota escreveu no Facebook que o irmão foi morto na sua frente. “Tiraram você da gente inocente, meu irmão. Justiça, meu Deus”, disse.
Dois vídeos obtidos pela reportagem mostram o momento em que o corpo é levado por um grupo de policiais enquanto os familiares gritam de desespero. “Olha o tanto de polícia dentro da casa do mano, deu uma par de tiro lá dentro. O bagulho tá louco”, disse um vizinho que gravava as imagens.
Leia também: Responda à pesquisa Jornalismo e coronavírus
Dois dias antes, na madrugada da sexta-feira (17/4), um PM foi morto na região. O soldado PM Felipe Jorge Pini Bubinik, 32 anos, pertencia a 1ª companhia do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano.
Bubinik morreu em uma viela na rua Leandro Teixeira, por volta das 3h40 da sexta-feira (17/4). O local onde o PM foi morto fica a cerca de 750 metros da casa do jovem assassinado neste domingo.
A morte do soldado gerou homenagens nas redes sociais, como a do coronel Salles, ex-comandante da PM, postou em seu Instagram sobre a morte do PM. “Tive a honra de servir ao lado do Bubinik quando comandei a zona oeste da capital e víamos nele o retrato da dedicação”, disse Salles. “Os policiais mais novos e recém chegados no 16 estagiavam com ele por conta de sua postura técnica, operacional e comprometida com a segurança pública”, completou o ex-comandante da tropa.
No sábado (18/7), às 11h da manhã, todas as viaturas da PM do estado de SP, nas 645 cidades, pararam em homenagem ao soldado. Ele foi enterrado no Mausoléu da PM, no Cemitério do Araçá, na zona oeste da cidade.
Há um histórico de mortes cometidas pela PM em Paraisópolis, muitas delas ocorridas após a morte de policiais. No ano passado, 9 jovens foram mortos durante uma ação da PM em um baile funk um mês depois que o sargento da PM Ronald Ruas Silva foi morto no local, episódio que ficou conhecido como Massacre de Paraisópolis.
Leia também: Morte de 9 jovens em Paraisópolis ocorreu após um mês de ameaças da PM
Um ano antes, em 2018, quando a PM Juliane dos Santos Duarte foi sequestrada, torturada e morta por membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), em agosto, policiais também foram denunciados por abusos.
Em 2009, após três policiais terem sido baleados num tumulto, a PM deu início a uma Operação Saturação que durou 82 dias e deixou relatos de práticas de tortura feitas até em crianças e idosos, segundo O Estado de S.Paulo.
O que diz o governo
Em nota enviada à Ponte, a Secretaria da Segurança Pública, por meio da assessoria terceirizada InPress, informou que o caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa.
“A Polícia Militar também apura os fatos por meio de IPM [Inquérito Policial Militar], que segue em sigilo. As primeiras informações apontam que o homem resistiu à abordagem dos policiais e disparou contra a equipe, que interveio”.
Reportagem atualizada às 14h do dia 22/4 para inclusão do nome da vítima