Manifestação acabou depois de PMs da Força Tática terem negociado com o fast-food o fechamento do local
Cerca de 30 pessoas se reuniram em frente à rede de fast-food Habib’s da Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, para pedir justiça pela morte do João Victor Souza de Carvalho, 13 anos. O desejo dos manifestantes é que a unidade seja fechada definitivamente e os dois funcionários que perseguiram e arrastaram o adolescente antes dele morrer, em 26 de fevereiro, sejam presos.
O protesto em frente à lanchonete começou por volta das 17h deste sábado (1º/04), na porta de entrada do fast-food. Os manifestantes impediam a entrada de clientes no comércio e chegaram a pedir para que as pessoas que já estavam consumindo fossem embora. Por volta das 18h30, todos clientes já haviam deixado a unidade.
“É importante manter o enfrentamento contra esse gigante chamado Habib’s, que é uma forma de não cair no esquecimento o caso do João Victor e o genocídio que acontece com nossas crianças”, disse Alaru, integrante da União dos Coletivos Pan Africanistas, um dos organizadores do ato.
Já com a loja vazia, o autônomo Amauri Veiga, 31 anos, pediu escolta aos PMs que acompanhavam o ato para entrar na lanchonete e pedir esfihas para levar. O autônomo afirmou que não era contra a manifestação, mas queria comer.
Outros clientes se solidarizavam com a família e iam embora sem realizar a compra. É o caso do aposentado Miguel Teodoro, 57 anos, que iria lanchar no fast-food com a esposa. Segundo ele, vale a pena ficar sem comer esfiha um dia em respeito à família. “A vida de qualquer ser humano tem que ser respeitada. Eles estão certo em fazer o ato”, afirmou o aposentado.
Enquanto os manifestantes gritavam palavras de ordem na porta da lanchonete, a catadora de material reciclável Silvia Helena Croti, 59 anos, que foi à polícia testemunhar que viu o menino ser agredido, ressaltou que, apesar do ato ter sido na data considerada como Dia da Mentira, a morte do João Victor foi de verdade e não deve ser esquecida.
“Tudo que eu falei, tudo que eu depus, é verdadeiro. Por isso quero dizer para vocês que o caso do João Victor não está encerrado. O caso do João Victor está aceso. Não pode deixar impune mais um crime. Por isso que eu falei, o Habib’s tem que pagar. Nós vamos ganhar essa luta em nome da criança de 13 anos”, disse Silvia.
Sem necessidade
Acompanhando do outro lado da avenida Itaberaba, o advogado da unidade do Habib’s da Vila Nova Cachoeirinha, Ismael Barbosa, disse que a lanchonete está cumprido todo procedimento legal para o esclarecimento do caso.
Para o advogado, “não há necessidade de protesto” já que a família teve o pedido de exumação atendida. O adolescente será exumado para a realização de novos exames periciais na próxima segunda-feira (03/04).
A reportagem conversou também com funcionários do Habib’s, que disseram que o movimento nos últimos dias está ao normal, apesar de ter caído nos dias seguintes à morte do adolescente. Os funcionários ainda afirmaram que, desde o ocorrido, o gerente e o supervisor da lanchonete não foram mais trabalhar.
Fotos e negociação
Cartazes com a foto de João Victor foram colados nos vidros do Habib’s pelos manifestantes. A PM que acompanhava o ato, no entanto, não gostou da ação. Como forma de intimidar os manifestantes, o 2º sargento Fernandes tirou foto das pessoas que estavam colocando os cartazes.
Por volta das 19h45, os manifestantes fecharam o cruzamento entre as avenidas Itaberaba, Deputado Cândido Sampaio e Inajar de Souza. O clima, então, começou a ficar tenso.
Pouco mais de 15 minutos depois do fechamento da via, quatro viaturas da Força Tática do 18º Batalhão da Polícia Militar chegaram para liberar o trânsito.
A mãe do adolescente morto, Fernanda Cássia de Souza, que está grávida, chegou a deitar no meio da avenida para que os manifestantes não saíssem da via. “A gente só sai quando o Habib’s fechar”, disse Alini Cardoso, 28 anos, prima de João Victor.
Cinco minutos depois, entretanto, familiares aceitaram liberar a via enquanto o PM da Força Tática 1º sargento Alexandre negociasse com o advogado Ismael para que a lanchonete fosse fechada.
“Nós não queremos que o procedimento seja violento, por isso, gostaria que ligasse para alguém para autorizar você a fechar o estabelecimento”, disse o PM Alexandre ao advogado.
A princípio, o advogado Ismael não queria que a unidade fosse fechada algumas horas antes do horário normal. No entanto, depois que os manifestantes ocuparam novamente o cruzamento das avenidas, por volta das 20h30, o representante do Habib’s aceitou abaixar as portas.
Parentes e amigos de João Victor liberaram a via, mas o clima não ficou totalmente calmo. De forma hostil, o cabo Lazzaro dizia “sai de perto da minha viatura” para todos que chegavam perto da viatura número 18015 da Força Tática, que estava parada do lado dos manifestantes, no estacionamento da lanchonete.
Antes do final do ato, o comandante da PM ainda parabenizou os manifestantes pelo protesto. “Não é fácil, no mundo capitalista, fechar uma lanchonete como essa. Damos parabéns para vocês e agradecemos por liberar a via”, disse o 1º sargento Alexandre.
A manifestação acabou pouco depois das 21h30. “Quando a gente saiu de casa queria isso. O objetivo de hoje foi alcançado. Doeu no bolso deles o que está doendo no coração dos pais”, disse Alini.
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