Polícia Civil de SP acredita que jovem, desaparecido desde dezembro de 2019, esteja morto e que alguém usou o documento
Perto de completar 5 meses do desaparecimento de Carlos Eduardo dos Santos Nascimento, o Cadu, 20 anos, a família descobriu que o número de CPF (Cadastro de Pessoa Física) do jovem vem sendo usado. O documento está cadastrado e ativo no sistema de auxílio emergencial dado pelo Governo Federal durante a pandemia.
Cadu sumiu no dia 27 de dezembro de 2019, na rua Benedito Basílio Souza Filho, no bairro Jardim São Camilo, periferia de Jundiaí, interior de SP, após ser abordado pela PM paulista.
De acordo com as investigações e relatos de testemunhas, o jovem estava em um bar com mais quatro amigos. Todos foram revistados pela PM, mas apenas Cadu, único negro do grupo, teve o celular apreendido e foi levado pelos policiais.
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No dia em que desapareceu, Carlos Eduardo estava sem os documentos, apenas com o celular, que também nunca mais foi encontrado. Mas, recentemente, um novo celular foi cadastrado no CPF de Cadu. É o que conta Eduardo Aparecido do Nascimento, 52 anos, pai do jovem. “A gente fez um levantamento e conseguimos constatar que tem um outro telefone cadastrado no CPF dele, o número está em São Paulo”.
“Aí, uma amiga minha falou ‘Eduardo, porque você não tenta ver se o CPF dele está sendo usado?’. Eu questionei como e ela me explicou para entrar no plano emergencial do governo. Quando eu entrei, apareceu para mim que o CPF dele já estava cadastrado”, relata o pai.
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A pesquisa no site da Caixa Federal foi feita no dia 29 de abril. No dia seguinte, Eduardo levou o caso para o delegado responsável pelas investigações na DIG (Delegacia de Investigação Gerais) de Jundiaí, Josias Guimarães. “A gente não sabe se ele está vivo ou se alguém está usando o CPF dele”, desabafa.
Existem duas investigações paralelas sobre o desaparecimento de Cadu. Uma é coordenada pela Polícia Civil e está sendo feita pela DIG. A outra é da própria PM, encabeçada pela Corregedoria da corporação.
Os últimos meses não foram fáceis para a família de Cadu, principalmente por um motivo: a ausência de informações concretas do paradeiro do jovem.
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“A DIG corre para fazer as coisas deles, mas também não têm informação nenhuma. Todas as vezes que vamos lá o delegado nos trata bem. Ele mostra como está o processo”, relata Eduardo. “Mas, infelizmente, do lado da Corregedoria [da Polícia Militar], a gente não tem nada. A gente liga lá e nunca consegue falar com a pessoa responsável”, aponta.
O que diz a polícia
Em entrevista à Ponte, Josias Guimarães, delegado responsável pelas investigações na DIG, explicou como a Polícia Civil está cuidando das informações levadas pelo pai de Cadu.
“Ouvimos o Eduardo novamente e anexamos duas coisas aos autos. A primeira é que um celular do Cadu foi cadastrado no IMEI de outra pessoa, mas apuramos que esse celular já tinha sido vendido pelo Cadu muito tempo antes do desaparecimento dele. A operadora Vivo já informou que a data é anterior ao desaparecimento, então supomos que ele já havia vendido ou passado para alguém”, detalha.
“A segunda coisa é que cadastraram o CPF do Cadu no auxílio emergencial. Então mandamos um e-mail com urgência para a Caixa Econômica Federal para que eles informem quem fez esse cadastro para receber o auxílio. Pedimos o bloqueio do cadastro e a informação de quem estaria utilizando o CPF”, explica Guimarães.
Questionado se há chances de Cadu estar vivo, o delegado foi enfático: “Não, não, não. É alguma pessoa utilizando o CPF dele”. Josias afirma que, infelizmente, o caso é de um sumiço que resultou em morte. “Eu acredito que já seja desaparecido por definitivo, ou seja, já estaria morto, mas temos que checar todas as informações, estamos atrás dessas informações que o pai nos passou. Até preferiria, se assim for desejado, que seja ele mesmo, mas acredito que não é ele não”, completou.
O delegado também afirmou que as investigações na DIG não param um dia sequer. “Estamos checando todas as informações que chegam, com urgência, porque se trata de um desaparecimento com possibilidade de homicídio. Não estamos saindo para a rua, mas a parte interna continua”, conclui.
A reportagem questionou as assessorias da Secretaria da Segurança Pública e da Polícia Militar sobre a atuação da Corregedoria da Polícia Militar. Em nota, a SSP informou que “o Inquérito Policial Militar foi relatado ao Tribunal de Justiça Militar solicitando diligências complementares, mas, até o momento, o IPM não retornou à Corregedoria”.
“A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Jundiaí segue investigado o caso. Mais informações não podem ser passadas, pois o trabalho policial exige sigilo nas investigações”, conclui a pasta.
Reportagem atualizada às 20h22 do dia 6/5 para inclusão da nota da SSP