Pessoas teriam ligação com tráfico e assassinatos em Pedro Juan Caballero; grupo tinha pistola de mesmo calibre da usada na morte de Léo Veras
Dez dias após a execução do jornalista brasileiro Lourenço Veras, o Léo, de 52 anos, uma grande operação realizada na madrugada deste sábado (22/2), envolvendo agentes do Departamento Contra o Crime Organizado e promotores do Ministério Público do Paraguai resultou nas prisões de dez pessoas suspeitas de envolvimento com o crime organizado, tráfico de armas e assassinatos em Pedro Juan Caballero, cidade na fronteira com o Brasil.
Na relação de presos figuram seis paraguaios, três brasileiros e um boliviano. Com eles foram apreendidas quatro pistolas Glock 9 mm, modelo semelhante ao usado no assassinato do dono do site de notícias Porã News, conforme antecipou em 21 de fevereiro a equipe da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) enviada ao local para apurar a morte de Léo Veras.
Além das pistolas, os agentes encontraram um Jeep Renegade, de cor branca, que pelos indícios pode ter sido utilizado na execução do jornalista, na noite de 12 de fevereiro. Veras jantava com a família no momento em que o veículo parou à frente de sua casa, no bairro Jardim Aurora, com quatro indivíduos.
De acordo com relato de testemunhas, três homens desceram do carro branco armados de pistolas. Dois deles invadiram a casa, atirando no jornalista, que tentou escapar para os fundos do imóvel, mas acabou executado no quintal com ao menos 12 tiros.
A operação coordenada pelo promotor Marcelo Pecci terminou às 7h da manhã. Ao final, as autoridades informaram em entrevista à Rádio Império FM 103.1 que os suspeitos seriam levados a Assunção, capital do Paraguai, juntamente com o material apreendido para análises que poderão comprovar a participação do grupo na execução de Léo Veras.
A arma usada na morte do jornalista está relacionada a pelo menos sete mortes ligadas ao PCC (Primeiro Comando da Capital), conforme reportagem do Programa Tim Lopes. Integrantes confirmaram esta informação à Abraji com base no confronto balístico realizado nos cartuchos recolhidos na casa de Léo Veras.
Veras aumenta a estatística de jornalistas mortos no Paraguai nos últimos 23 anos. Com seu assassinato, o país registra 18 mortes desde 1997, sendo que apenas três delas resultaram em denúncias e condenações dos mandantes e dos assassinos.
Programa Tim Lopes
Todos os indícios da morte de Veras sugerem que ela esteja relacionada ao exercício da profissão. Por isso, o assassinato do jornalista será o terceiro a ser incluído no Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji, com o apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis.
Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.