Tenente coronel Alexandre Gaspar Gasparian será substituído por Alberto Malfi Sardilli. Em sua gestão, policiais da considerada tropa de elite da PM-SP tiveram ao menos três fortes desvios de conduta comprovados
63º comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), o tenente coronel Alexandre Gaspar Gasparian não está mais à frente da auto denominada tropa de elite da PM-SP (Polícia Militar do Estado de São Paulo). Por “conveniência de serviço”, o secretário da SSP (Secretaria da Segurança Pública), Alexandre de Moraes, determinou a troca entre os comandos da Rota e da Cavalaria da PM. A transferência de Gasparian para a cavalaria e a chegada de Alberto Malfi Sardilli à Rota foi publicada no DOE-SP (Diário Oficial) deste sábado (19).
Com a determinação, Alexandre Gaspar Gasparian ficará marcado por ter ficado no comando da Rota por menos de sete meses – do dia 26 de fevereiro de 2015 ao dia 18 de setembro do mesmo ano. No curto período, policiais da considerada tropa de elite da PM-SP tiveram ao menos três fortes desvios de conduta comprovados. No mais recente dos casos, o soldado Fabrício Emmanuel Eleutério, transferido recentemente pelo comando da PM para a Rota – por ter envolvimento em mais de três supostos confrontos seguidos de morte nos últimos cinco anos – foi reconhecido por uma das vítimas da chacina de Osasco e Barueri, em 13 de agosto deste ano. Ao todo, 19 pessoas morreram.
No dia 6 de agosto, um pelotão inteiro da Rota – formado por 14 homens – foi preso administrativamente sob suspeita de ter forjado um tiroteio para tentar justificar a morte de dois homens. Uma testemunha afirmou que uma das vítimas foi detida por policiais militares em Guarulhos, na Grande São Paulo, horas antes de ter aparecido morto em Pirituba, zona oeste, distante aproximadamente 32 quilômetros. A SSP afirmou à época que foram apreendidos uma submetralhadora 9 mm., um revólver, um colete à prova de balas e duas dinamites.
Um outro caso que causou repulsa aconteceu na cidade de Sumaré, a 120 quilômetros da capital paulista, em 8 de julho. Dois integrantes da Rota e dois membros do 1º Baep (Batalhão de Ações Especiais) foram presos em flagrante sob a suspeita de promover um atentado a tiros contra um jovem de 22 anos e também de tentar matar outros quatro policiais militares. Armados com fuzis, pistolas e escopetas em um carro com placas adulteradas, os policiais balearam a vítima e, depois, trocaram tiros com PMs ouviram os tiros e deram ordem para que os policiais parassem o carro.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) justificou a queda do comandante da Rota à Ponte Jornalismo afirmando que “a troca de cargos na carreira policial é rotineira”. Um pedido de entrevista com o novo comandante da tropa foi feito, mas até a divulgação desta reportagem, não foi atendido.
Outros casos envolvendo a Rota
No dia 28 de julho, a Ponte Jornalismo revelou um laudo do IML (Instituto Médico Legal) que comprovava que policiais da Rota torturaram três pessoas com choques elétricos, inclusive no pênis, por aproximadamente sete horas. As vítimas desapareceram e a polícia até emitiu alerta geral para tentar localizá-las para fazer interrogatórios. O PM que chefiou a equipe foi promovido de tenente para capitão após aquela ação. Os mesmos PMs da Rota suspeitos de torturar os detidos são investigados por mentir ao Disque Denúncia.
Após a morte de um policial, em 18 de outubro do ano passado, Luciano Santos Meneses, de 22 anos, e Bruno Lúcio da Rocha, de 20, sumiram. Ao menos três moradores do Parque Bristol, área em que o policial havia sido morto com um tiro na nuca, relataram terem visto os dois jovens, vivos, sendo colocados em um carro da Rota. Após denúncia da Ponte Jornalismo, a Corregedoria da PM afirmou que iria investigar o caso.
Outro caso revelado pela Ponte Jornalismo é o da pistola .40 furtada da reserva de armas da Rota. Comprada pelo governo do Estado de São Paulo da empresa Forja Taurus por R$ 1.901,00, a pistola foi a mesma arma usada para assassinar um integrante da própria PM: o soldado Genivaldo Carvalho Ferreira, de 44 anos. O mistério entre a morte do soldado Ferreira e o sumiço das 31 pistolas .40 da Rota foi descoberto quando um dos 4 suspeitos de participação da morte do policial militar foi preso pelo DHPP (departamento de homicídios), da Polícia Civil, e pela Corregedoria da PM.
A pistola foi apreendida em janeiro do ano passado, quando Alan Santos dos Prazeres, suspeito de participação na morte do soldado Ferreira, foi localizado e preso em sua casa, no bairro de Paraisópolis, zona sul de São Paulo. Os policiais do DHPP pediram auxílio do Centro de Suprimentos e Manutenção e Munições da PM e conseguiram confirmar ser a nº SDM11558, uma das desaparecidas. O exame balístico feito pela Polícia Técnico-Científica também comprovou ter sido a mesma arma usada para atirar contra a cabeça do soldado Ferreira.