Pode ser uma dona de casa numa comunidade, coletivos ou grandes empresas: muita gente está fazendo o que pode para ajudar quem perdeu o sustento na pandemia
Desde que perdeu o filho, assassinado em 2015 na maior chacina da história de São Paulo, com 23 mortos nas cidades de Osasco, Carapicuíba, Itapevi e Barueri, Zilda Maria de Paula luta contra injustiças. Seja contra violência policial ou a falta de recursos em meio à pandemia de coronavírus.
Leia mais:
A quarentena do Itaim Paulista
Como Heliópolis, maior favela de SP, luta contra o coronavírus e a perda de renda
‘Só tenho sal na dispensa’: Joyce não pode mais esperar pela ajuda do governo
Dona Zilda decidiu agir por contra própria quando viu a falta de ações do poder público junto à comunidade onde vive. Sozinha, Zilda conseguiu doações para famílias do Jardim Mutinga, na divisa de Barueri com Osasco.
Foram 25 kits com alimentos distribuídos na região. “Doei para bastante gente, doei do portão de casa, mesmo”, diz, orgulhosa. As doações foram inteiradas com dinheiro da própria dona de casa.
Além das comidas, a mulher tem feito máscaras de pano artesanais para evitar que o vírus propague pela quebrada. Ela teve a ideia quando viu funcionários do posto de saúde do bairro usando máscaras improvisadas. “Pedi para uma vizinha costureira uns retalhos e ela me deu um monte. E estou fazendo. Depois levo lá no postinho e distribuo aqui para a turma”, conta.
Zilda preferiu não esperar a ajuda prometida pelo governo. Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que inicialmente divulgou que pagaria R$ 200 por mês aos tralhadores informais afetados pela quarentena, assinou medida provisória prevendo o valor de R$ 600, sendo R$ 1,2 mil para famílias com duas pessoas nestas condições, mas ainda não disse quando vai pagar a maior parte deles.
Do restaurante para a rua
Ações de cuidados como as adotadas por dona Zilda têm se espalhado. Uma delas surgiu na conversa do comerciário Miguel Rodriguez, 58, com um dos sócios do restaurante Varal 87, de Moema, zona sul da cidade de São Paulo. Miguel atua com o povo de rua há anos e destacou sua preocupação neste momento de pandemia.
Em resposta, o empresário disponibilizou a cozinha do restaurante para a produção de marmitas para serem doadas no centro de São Paulo. “Pensamos em como ajudar e doação, de alimento seco, é complicado. Como eles fariam sem gás? E marmitex é caro fazer em casa, um restaurante tem insumos, profissionais. E eles compraram a ideia”, conta Miguel à Ponte.
Já foram 250 porções entregues em dois dias. No entanto, a quantidade atingiu apenas 20% da procura que tiveram no Largo São Francisco, no centro da capital. A ideia é incentivar outros restaurantes a também disponibilizarem seus espaços para ajudar.
“Como o restaurante já estava entregando delivery e a cozinha funcionando, conversamos com amigos, clientes e eles aderiram à ideia”, conta Camila Nagata, empresária amiga de um dos donos do espaço, que tem ajudado na ação.
Neste domingo (5/4), foram 60 kg de macarrão para 150 marmitas, que também têm carne moída, batata, cenoura e uma garrafa de 500 ml de água também é dada às pessoas em situação de rua. “Estamos muito surpresos pelas reações dos clientes que, além de fazerem pedidos por delivery, apareciam com as doações. Faziam questão de vir retirar a comida para trazer as doações que comparam”, diz Camila.
Mais Brasil Solidário
Há iniciativas maiores, ligadas à ONGs, como a Mais Brasil Solidário. Em meio à pandemia, a organização focou em fazer a ligação entre doações de pequenos varejistas que atuam nas periferias com as pessoas que necessitam de doações. O trabalho é feito em conjunto com o Comida Invisível, que liga doadores de alimentos com pessoas que precisam de doações.
“Queremos fomentar as doações para que os alimentos e material de higiene cheguem às pessoas em vulnerabilidade social. Com a covid-19, as pessoas viram que minha cura é a cura do outro. Fomentar essa responsabilidade social de todos é um canal”, explica a advogada Daniela Leite, fundadora do Comida Invisível.
Antes do coronavírus, o foco era apenas em cestas com alimentos. Agora, o coletivo começou também a oferecer produtos em uma cesta específica, chamada de “Cuidado”, com creme dental, detergente, sabão em barra, entre outros itens.
O projeto começou a girar na sexta-feira (3/4) e já alcançou R$ 42 mil em doações e a doação de 844 cestas, divididas em 383 delas com itens de higiene e outras 461 de alimentos – há duas opções: cesta “Carinho” (304 doadas) e “Amor”, diferenciadas pela quantidade de itens em cada uma.
“O interessante que está sendo um processo colaborativo, com várias entidades e empresas que nos ajudaram a montar e colocar o projeto de pé”, explica Andrea Kestrek, administradora de empresas. “O grupo acredita que o apoio na manutenção do tecido econômico e social da periferia é importante para manter a economia local”, prossegue.
Como ajudar:
Macarronada solidária
Rua Graúna, 87, Moema, São Paulo
(11) 9 7222-0240
Mais Brasil Solidário
www.maisbrasilsolidario.com.br
Veja mais iniciativas para as vítimas da pandemia:
Heliópolis (SP)
A Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região) tem recebido doações de itens de higiene, alimentos e financeiras.
Doações de cestas básicas, álcool em gel e sabonetes:
Endereço: Rua da Mina, 38 – Heliópolis
Fone: (11) 2272-0140
Doações em dinheiro:
Banco: Caixa Econômica Federal (104)
Agência: 3124
Conta: 376-7
CNPJ: 38.883.732/000.1-40
Unas – União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região.
Paraisópolis (SP)
Moradores se reuniram também para distribuir alimentos e kits de higiene para pessoas sem condições de comprar os itens na pandemia. A Associação de Moradores de Paraisópolis ainda alugará casas para quem precisar de assistência. As doações são por vaquinha online, acessível pelo link.
Apoie uma diarista (SP)
Iniciativa do G10 das Favelas, financiamento online visa ajudar empregadas domésticas da favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, que tiveram a renda afetada pela pandemia e o isolamento social.
#XôCorona (SP)
A ação envolve a Cufa (Central Única das Favelas) e a construtora Lello e pretende entregar produtor de higiene (cloro, detergente, sabonete liquido) para a Central distribuir na capital paulista. Doações são feitas em contribuição online.
UNEafro-Brasil (SP e RJ)
Entidade reúne doações de alimentos e higiene para 241 famílias e enfrentar o “genocídio pela covid-19”. As doações são por vaquinha online clicando no link.
Gabinete de Crise do Complexo Alemão (RJ)
Moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, se juntaram para conscientizar a população e arrecadar comida e produtos de higiene para as pessoas. Mais de mil cestas já foram distribuídas pelo grupo, que tem entre seus integrantes do Coletivo Papo Reto.
Doações por depósito bancário
Banco Santander
Agência: 0925
Conta corrente: 13001139-8
Associação Coletivo Papo Reto
CNPJ: 33.517.057/0001-11
Informações: [email protected]
Redes da Maré (RJ)
O coletivo carioca busca contribuir com famílias das 16 comunidades que integra o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, com itens básicos de alimentação e higiene. As doações podem ser enviadas ao grupo ou feitas via bancária.
Centro de Artes da Maré – CAM
Endereço: Rua Bittencourt Sampaio, 181 – Nova Holanda – Maré
Dias/horário: terças e quintas-feiras, das 14h às 17h.
(em outro horário, combinar pelo telefone (21) 99907-3154 ou e-mail [email protected])
Associação Redes de Desenvolvimento da Maré
CNPJ: 08.934.089/0001-75
Banco do Brasil – 001
Agência: 0576-2
Conta Corrente: 160.568-2
Para doações internacionais:
Código IBAN: BR15 0000 0000 0057 6000 1605 682C 1
Código Swift: BRASBRRJRJO
Banco Itaú S/A – 341
Agência: 0023
Conta Corrente: 543.38-2
Para doações internacionais:
Código IBAN: BR83 6070 1190 0002 3000 0543 382C 1
Código Swift: ITAUBRSP
Rocinha contra o coronavírus (RJ)
Assim como parte das outras iniciativas, grupo pretende juntar cestas básicas e itens de higiene para entregar a moradores mais atingidos pela pandemia na Favela da Rocinha, no RJ. Detalhes para as doações pelo WhatsApp (21) 97960-44967
Fundo Emergencial para a Saúde
Três entidades se uniram para arrecadar fundos para a Fiocruz, Hospital das Clínicas, Santa Casa de São Paulo e ONH Comunitas comprarem equipamentos hospitalares, itens de higiene e proteção dos profissionais da saúde e testes para o coronavírus. Contribuições podem ser feitas clicando no link.
Unicef
A entidade internacional busca levar nacionalmente alimentos e kits de higiene. As doações são recebidas no próprio site da Unicef, clicando no link.