‘Governos de vários partidos aumentaram repressão da luta nas ruas’, diz militante do MPL

    Professora Gabriela Dantas, 25 anos, fala de legado de 2013 e critica Lula por tentar responsabilizar Movimento Passe Livre por ascensão da direita

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Apesar de ter nascido em 2005, durante o Fórum Social Mundial, e ter imprimido uma marca no debate nacional do transporte público, até 2013, muita gente nunca tinha ouvido falar no MPL, o Movimento Passe Livre. Com a pauta da tarifa zero mobilizou todo o país e foi inspiração para um chamado irrevogável: o de ocupar as ruas.

    Atualmente, chega janeiro e já virou hábito esperar pelos atos organizados contra o aumento da tarifa do transporte público. Desde o início deste ano aconteceram dois, ambos marcados por repressão policial, prisões ilegais – até de fotógrafos – e cerceamento à liberdade de imprensa, características que poderiam até existir dentro do aparato repressor do Estado, mas que transbordaram nas jornadas de junho de 2013.

    Naquela ocasião, diferente do que aconteceriam nos anos seguintes, ao menos em São Paulo, Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), que eram o prefeito e governador, decidiram reajustar em R$ 0,20 a tarifa de ônibus, trens e metrô. “Foi um erro [para o governo]. Não à toa, isso nunca mais foi feito. Por outro lado, isso nos deu tempo hábil para a gente construir uma luta ao longo de todo o semestre”, avalia a professora de geografia Gabriela Dantas, 25 anos, militante do MPL e que concedeu entrevista à Ponte nesta semana. “Fizemos formação em escolas, associações de moradores de bairros, cursinhos populares. Foi a partir dessa construção nos territórios que a gente conseguiu levantar grandes manifestações centrais”, detalha.

    Cuidadosa ao responder sempre na primeira pessoa do plural, Gabriela afirmou que a repressão do Estado piorou nos últimos anos, que a criminalização de lutas sociais é crescente e criticou a declaração de Lula de que as jornadas foram financiadas pela CIA (traduzido do inglês para Agência Central de Inteligência, do governo dos Estados Unidos) para derrubar a então presidente Dilma Rousseff (PT) e deixar caminho livre para a ascensão da extrema-direita. “Lamentamos sinceramente que esse seja o ponto de vista de uma parte da esquerda, porque culpar movimento social e quem luta por direitos pela ascensão da direita não faz o menor sentido”, declarou.

    Segundo ela, para o MPL, a imprensa hegemônica teve grande responsabilidade em tornar a pauta difusa e fazer com que todo levante popular surgido a partir de 2013 parecesse ser a mesma coisa. “A grande mídia divulgava o que estava acontecendo e muitas vezes não falava do transporte, não falava do aumento de tarifa, que era o nosso ponto central. Falava que era contra a corrupção, outras coisas. Não é que não existam outras pautas legítimas. A questão é que com uma pauta objetiva e clara, a gente consegue conquistas concretas, como foi o caso de 2013”, pontua, lembrando que as mobilizações conseguiram revogar o reajuste de tarifa em mais de 100 cidades.

    Ponte – Quando e como você conheceu o MPL?

    Gabriela Dantas – Eu sou do movimento desde 2016, mas participo das manifestações desde 2011. Quando eu cheguei já tinha toda uma história, já tinham seis anos em que o movimento estava se organizando e uma série de lutas, tanto quanto ao aumento, que são esses momentos que a gente consegue mais visibilidade, quanto muitas outras lutas no dia a dia, que pautam a questão dos corredores de ônibus, linhas de ônibus que cortam bairros até a tarifa zero mesmo. Foi inclusive em 2011 que o movimento começou uma divulgação da proposta de tarifa zero para coleta de assinaturas para fazer um projeto de lei de iniciativa popular.

    Ponte – O que te motivou a iniciar a militância?

    Gabriela Dantas – Quando eu cheguei, a discussão da tarifa zero estava no auge. O que me cativou, que me fez chegar e ficar junto ao Movimento Passe Livre foi, antes de mais nada, a clareza que as pessoas têm em relação à pauta. Isso é uma coisa que a gente preza muito dentro do movimento, que é o fato de ser um movimento social organizado em torno da pauta do transporte. Essa é nossa finalidade, é para isso que a gente existe e constrói as nossas lutas. É com o objetivo de que realmente exista um transporte público de verdade, que a gente entende que não existe hoje. O atual modelo de transporte mais distancia as pessoas da cidade em que vivem do que aproxima. Na lógica do lucro, que é o que constrói esse transporte, que só serve para enriquecer empresários envolvidos nesse negócio, o que acontece na prática é uma penalização extremamente perversa, especialmente das pessoas que moram na periferia e dos mais pobres. Quanto menos dinheiro você tem, menos acesso você tem a cidade, menos possibilidade você vai ter de encontrar parentes, de encontrar amigos, de procurar emprego, de ir a um hospital, ou seja, de viver todas as experiências que supostamente a gente teria direito ao viver em uma cidade. Muitas vezes, quando se fala do MPL, vem logo à mente as imagens de 2013 e muito a questão da repressão policial. O que acaba acontecendo é que o que aparece mais na mídia não é relacionado a nossa pauta, a questão central da luta, ou seja, o transporte. E a gente acaba vendo que, no final das contas, isso é um objetivo da própria repressão: tirar o foco do que a gente realmente está tentando debater e trazer para a população.

    Ponte – Eu li recentemente o livro “Passe Livre: as possibilidades da tarifa zero contra a distopia da uberização”, do Daniel Santini, que traz modelos de transporte de fora do país e mostra experiências de tarifas pelo mundo. A tarifa zero, ou o passe livre, como queira chamar, é possível?

    Gabriela Dantas – O que a gente diz é que não só a tarifa zero é possível como ela é necessária. E digo isso porque se a gente continuar da mesma forma, com um transporte que é cobrado diretamente de quem depende dele no dia a dia, com tarifas cada vez maiores, a gente vai chegar em um ponto que a maior parte da cidade vai ser excluída de fato de circular e poder viver. É uma questão de sobrevivência mesmo. Muitas vezes os argumentos políticos, de governantes, vêm no sentido de dizer que não é possível não aumentar a tarifa, que é impossível a tarifa zero, de dizer o quanto é utópico. Mas para a gente é uma questão de quais as prioridades estão sendo levadas em conta. Como pode dizer que é impossível não aumentar a tarifa, mas que é possível você onerar ainda mais as famílias que gastam um terço do salário com transporte? Que deixam de comer para pagar a passagem? Isso é possível? Para a gente, não. No livro que você citou, há uma série de debates que nós participamos, tem apontamentos do Lúcio Gregori [secretário da gestão municipal de Luiza Erundina e que propôs um modelo de tarifa zero] que comprovam o quanto não é uma questão técnica. O Gregori diz que, do ponto de vista técnico, um estudante de engenharia do segundo ano é capaz de construir um projeto de tarifa zero para o ônibus ou metrô de São Paulo. Não é sobre isso. A questão é que há interesses políticos e econômicos que são enormes e ao mexer nisso é que a gente vai avaliar o quanto a tarifa zero vai ser pautada, o quanto isso será defendido. Para nós, faz sentido lutar pela tarifa zero enquanto movimento social, porque a gente acredita que para ter força de construir um transporte de fato público, só vindo de baixo mesmo, só realmente vindo com a força da maioria que seria beneficiada com a força dessa transformação. 

    Ponte – O MPL surge durante o Fórum Social Mundial de 2005. Mas qual a inspiração?

    Gabriela Dantas O movimento se estabelece naquele contexto muito inspirado em lutas que tinham acontecido entre os anos de 2003 e 2004, em Salvador e em Florianópolis. Em Salvador, teve uma luta muito grande em 2003 que ficou conhecida como “Revolta do Buzu”. A mobilização foi muito forte, mas não conseguiram revogar o aumento da tarifa. No entanto, houve um certo caos que deixou uma sensação de que era preciso um movimento próprio para lutar pelo transporte. Em Florianópolis, em 2004 e 2005, foram dois anos seguidos que tiveram a chamada “Revolta da Catraca”. E nesse contexto começaram a ser organizadas as campanhas pelo passe livre. Um dado importante é que ele surge como um movimento nacional, já que foi organizado a partir de uma plenária com pessoas de várias cidades, ou seja, ele surge com esse funcionamento de federação. A gente tem o movimento aqui em São Paulo, mas também em Salvador, surgiu em Recife, no Distrito Federal, entre outros. Temos contato uns com os outros, seguimos princípios comuns, mas com autonomia para tocar as nossas pautas.

    Ponte – As jornadas de junho de 2013 ficaram marcadas pela repressão policial. Mas qual você acha que foi o ponto de virada de 2013? Foi aquele dia de intensa repressão, quando a mídia hegemônica passou a apoiar os protestos?

    Gabriela Dantas – Nas discussões do movimento em relação a 2013, a gente tem dito que se busca esse tal turning point, esse ponto do inflexão que seria a partir daí que viraram as grandes jornadas, as grandes manifestações, mas para a gente é sempre importante frisar que uma revolta popular como a que aconteceu não se faz de um dia para o outro. Isso não acontece a partir de um único evento. É logico que o fato de jornalistas terem sido atingidos pela repressão e a grande mídia ter mudado seu posicionamento a partir daí faz diferença, porque a gente vive uma sociedade em que a imprensa tem papel central na formação da opinião pública. Agora, por que 2013 se tornou 2013? Não foi por causa da repressão. Isso a gente já tinha vivido antes, em diversas manifestações de diversas organizações e com pautas diferentes. É importante relembrar que em 2013 foi a primeira vez que o aumento de tarifa aconteceu no meio do ano, de maio para junho. E não a toa, isso nunca mais foi feito. Foi um erro para eles. Isso deu tempo hábil para a gente construir uma luta ao longo de todo esse semestre com uma série de formações em escolas, em associações de moradores de bairros, cursinhos populares, que a gente vinha tendo contato. A partir da construção nos territórios que a gente conseguiu construir grandes manifestações centrais. Pouco se fala que as primeiras manifestações em 2013 não foram as centrais, e sim as manifestações em Pirituba, em outros bairros onde estudantes e moradores estavam organizados em torno disso. A gente também acredita que vinha acontecendo um acúmulo do debate desde 2011 que culminou em 2013. Quanto a questão de muita gente ter aderido depois que as mobilizações tinham espaço na mídia, também é importante dizer que a pauta sempre continuou sendo o aumento de tarifa. Nesse sentido, a mídia teve um papel complicado ao tornar a pauta das manifestações uma coisa difusa. Muitas vezes quando a grande mídia divulgava o que estava acontecendo, não falava do transporte, não falava do aumento de tarifa. Falava que era contra a corrupção, que eram outras coisas. E não estou dizendo que não existam outras pautas legítimas. A questão da Copa estava começando, enfim, existe uma série de pautas para a gente reivindicar. A questão é que com uma pauta objetiva e clara, a gente consegue conquistas concretas, como foi o caso de 2013. Esse papel de formação que 2013 teve com relação ao debate público sobre o transporte, isso é realmente relevante.

    Ponte – Eu queria saber sobre as táticas de repressão da PM. Como você disse, a repressão sempre foi uma constante, porque sempre a autoridade vai tentar suprimir a revolta popular. Mas em 2013 isso se escancarou. De la para cá, os governos diversificaram o aparato repressivo: colocando infiltrado, treinando novas tropas, colocando o PM mediador. O que você acha disso tudo? Piorou?

    Gabriela Dantas A repressão avançou bastante desde 2013. Isso tudo que você mencionou. Desde um aumento das tropas para o enfrentamento, agora temos o Baep [Batalhão de Operações Especiais, chamado de ‘Rota do interior’, em referência à atuação da tropa mais letal da PM paulista], que são treinados para um embate mais agressivo e violento, quanto do ponto de vista jurídico, legal. A gente teve a aprovação da lei antiterrorismo, teve o inquérito Black Bloc, em 2014. A gente teve uma série de ataques e é bom lembrar que partiu de governos de diversos partidos. A gente vê um acirramento da repressão que vem dificultando a vida de quem tenta organizar manifestações, lutar por direitos nas ruas. A gente pode dizer muita coisa contra a polícia, mas não pode dizer que são burros. Eles realmente vem aprendendo com nossas mudanças de estratégia e tática. A questão dos mediadores, que passou a vigorar no ano passado, é algo que a gente fez questão de denunciar.

    Ponte – Por quê?

    Gabriela Dantas – No nosso ponto de vista foi um golpe midiático. Colocar policiais com o coletinho escrito “mediadores” como se eles estivessem tendo um papel de mediação é uma imagem que eles querem criar da polícia disposta ao diálogo. E isso é uma imagem falsa. Primeiro que não existe mediação porque o mediador está de um dos lados. Além disso, o que a gente percebeu, de fato, do papel objetivo desses mediadores, é que por eles não serem os tomadores de decisão, o que eles fazem é atrasar o nosso acesso aos responsáveis pela operação policial. No ano passado, a gente percebeu que serviu para atrasar a saída dos atos e dificultar a nossa organização, ao mesmo tempo em que tomam nota e estudam a nossa atuação, nosso posicionamento. Tinham mediadores que estavam com um caderninho e tudo que a gente falava, eles anotavam. A gente sabe que eles estão estudando a gente. Isso desde as câmeras com o Olho de Águia [banco de dados secretos mantido pela PM e descoberto pela Ponte em 2017] até o mediador com o caderninho.

    Ponte – Tivemos no ano passado um decreto do governador Doria que impõe uma série de restrições, quase que para fazer o sujeito desistir de se manifestar. Como o movimento avalia?

    Gabriela Dantas – É completamente inconstitucional. Na prática, o que esse projeto prevê é a proibição da livre manifestação. Entre os pontos, prevê que qualquer manifestação pública com mais de 300 pessoas tem que passar anteriormente por uma reunião com a PM, na qual a corporação vai aprovar ou não o acontecimento da manifestação. A gente não aceita esse decreto, não reconhecemos a legitimidade e não vamos nos pautar por ele. Tanto é que nunca aceitamos essa reunião prévia com a polícia. A gente não vai, a gente não responde e isso é uma posição política nossa. Não há sentido político em acordar trajetos com a polícia porque a gente entende que as ruas que a gente vai ocupar, e que vai atrapalhar sim o trânsito, é o peso que a gente tem para fazer pressão e ser ouvido. Se não parar as ruas, não teremos como fazer os governantes nos ouvirem. Quanto à questão das máscaras, nossa defesa é que as pessoas possam se proteger das bombas de gás e de outras armas menos letais, e usar as máscaras pode ser para isso ou mesmo para se proteger da identificação, de proteger a identidade. Nada disso deve ser criminalizado. O absurdo é, sim, o Estado estar mapeando os manifestantes, intimidando e afastando as pessoas das ruas. 

    Ponte – Você usou a palavra intimidação. Como o MPL avalia esse processo de perseguição e tentativa de criminalização do MPL? O quanto isso pode enfraquecer um movimento de luta?

    Gabriela Dantas – O objetivo dessa perseguição é enfraquecer os movimentos, a luta. É um terrorismo psicológico o que eles fazem. Estão fazendo as pessoas assinarem termos circunstanciados de que elas não podem participar de manifestações nos próximos dois anos ou então aterrorizam e ameaçam pessoas em “enquadros”. São todas medidas de repressão para afastar as pessoas das ruas. A gente não pode de forma alguma baixar a cabeça e se render a esses ataques. Se sairmos das ruas é que a coisa vai piorar mesmo. Nosso entendimento é que nunca uma manifestação pode ser responsabilizada pela repressão. A responsabilidade pela repressão vem do Estado e é com a mobilização que a gente consegue garantir um mínimo de direitos. Sem mobilização, sem luta por direitos, não existe direito algum que esteja garantido. Inclusive o próprio direito de se manifestar. Para a gente difundir práticas de auto defesa, de segurança, fazer com que cada vez mais gente que está nas manifestações se sinta seguro para andar em grupo, auxiliar com primeiros socorros, enfim, estar ali presente da forma mais consciente possível dessas medidas de segurança, isso para a gente é a nossa resposta, é o que podemos fazer para a gente não recuar.  

    Ponte – Como o MPL avalia essa onda de críticas de uma parte da esquerda que procura culpá-los pelo avanço conservador?

    Gabriela Dantas – O Lula [ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, do PT] novamente deu declarações falando que 2013 foi financiado pela CIA para tirar a Dilma [Rousseff, ex-presidente] do poder e fazer o ascenso da direita. Esse discurso, seja dessa forma ou com atenuantes, tem sido difundido em um certo campo da esquerda. A gente lamenta sinceramente que esse seja o ponto de vista de uma parte da esquerda, porque culpar movimento social e quem luta por direitos pela ascensão da direita não faz o menor sentido. Em 2013, o que aconteceu para o MPL foi uma conquista. A gente conseguiu a revogação do aumento da tarifa em mais de 100 cidades, isso é uma redistribuição de renda fenomenal, maior que bolsa família. Não reconhecer isso e não reconhecer o avanço de lutas que vieram a partir de 2013, é realmente fechar os olhos para toda uma parte da população que está se organizando para a luta. A gente teve em 2014 o ano de mais greves da história do país. Teve a greve dos garis, dos metroviários, dos rodoviários, que há muito tempo não se organizavam daquela forma. Foi uma série de lutas que surgiram por influência direta ou indireta de 2013 e que fortaleceu a esquerda. Em 2015, aconteceram as ocupações. Esse campo de luta que se fortaleceu em 2013 não se reconhece nas organizações partidárias. E o que a gente percebe é que a esquerda mais institucional, mais partidária se recusa a aceitar e a somar junto com essas formas de luta, talvez por se sentir ameaçada, por estar fora de controle… Muitas vezes vem um discurso de que isso ameaça a governabilidade de governos de esquerda. No caso de 2013, a gente tinha um prefeito que era do PT [Fernando Haddad]. Há quem diga que não poderíamos ter organizado uma luta durante um governo petista, que a gente não poderia ter desestabilizado um governo de esquerda. Para nós é justamente o contrário. Se é um governo de esquerda, ele tem que estar aberto a ouvir a população. Afinal, o que é ser de esquerda? Não é só estar filiado a um partido. É ter ações que mostram preocupação com questões sociais, com as condições de vida da população. Se a população estava nas ruas dizendo que não aceitava pagar mais por um transporte precário, o que um governo de esquerda deveria fazer diante disso? A gente sabe que tinha gente do PT apoiando as lutas em 2013 que estava nas ruas junto com a gente. E nas nossas manifestações é justamente essa: independente do partido que está vinculado, a gente possa somar numa luta por direitos em que a pauta é o transporte. 

    Ponte – No segundo semestre de 2013, as manifestações seguiram, mas um pouco mais espaçadas. Um pouco antes do “não vai ter Copa”, o movimento dos “amarelos”, do que viriam a pedir o impeachment de Dilma, começou a tomar corpo. O que o movimento acha dessa difusão de pautas? Isso não atrapalha a coerência da luta?

    Gabriela Dantas – Isso é uma preocupação nossa: manter a clareza e a objetividade das pautas, especialmente quando vamos fazer ações para pressionar governantes. É preciso traçar objetivos bastante concretos: revogação do aumento da tarifa, a revogação do corte de linhas de ônibus, são todas pautas muito concretas. A gente se preocupa quando vê que as manifestações estão sendo divulgadas como uma forma sem conteúdo, como se fosse simplesmente um momento de estar na rua e não um momento de estar na rua para lutar por transporte, para disputar aquele espaço que e é a rua e que ele deve ser nosso no dia a dia com transporte que atenda as nossas necessidades. Mas dizer que tudo isso se perdeu, não. Pela nossa avaliação, por mais que a coisa tenha se difundido, a pauta tenha se propagado e atingido grupos mais à direita, o fato de a gente ter conseguido a revogação mostra que nossa luta foi efetiva. E quando eu digo “nossa” não é do MPL apenas, mas de todo mundo que estava na rua por isso. A gente de fato perdeu o controle das ruas em 2013 e é isso que a gente queria. A gente nunca quis, ou achou que seria possível, construir uma revolta popular de uma forma exatamente controlada ou da forma como a gente queria. Uma coisa que dizemos é que as ruas não são nossas. A gente chama o evento, se responsabiliza por isso, estamos lá com essa disposição, mas não estamos lá para controlar como cada pessoa vai se manifestar ou agir. Isso as pessoas têm liberdade para fazer, porque a rua é de todo mundo. 

    Ponte – Então para conseguir ter resultado em uma luta é preciso ter um objetivo claro?

    Gabriela Dantas Com certeza. E daí isso retorna ao que já falamos, que é o fato de que as próprias ruas viram um espaço de formação, que é um espaço onde a gente pode, através do jogral, dos panfletos, das conversas, ir aprofundando o debate e difundindo informações qualificadas sobre o transporte público. 

    Ponte – Sete anos se passaram, um novo aumento, dois atos com prisões ilegais, violência do Estado. O que esperar? 

    Gabriela Dantas – Essa semana teremos uma semana cheia, com ato no Grajaú, extremo sul da cidade, e na quinta-feira, às 17h, vai ter a Terceira Manifestação central do MPL na frente do Theatro Municipal. Há outras ações que não posso dizer, mas o que afirmo é que não vamos recuar. Vamos continuar nas ruas até que seja revogado o aumento de tarifa.

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