Jeniffer Mendonça, repórter da Ponte, é uma das finalistas do Troféu Mulher Imprensa

Reconhecida pela cobertura sólida e crítica de segurança pública, jornalista foi indicada na categoria “Revelação”; votação é aberta ao público e acontece até dia 30 de agosto

Jeniffer Mendonça foi indicada na categoria “Jornalista Revelação” do Troféu Mulher Imprensa. | Foto: Reprodução/Linkedin

Quem acompanha de perto o trabalho da repórter Jeniffer Mendonça, 26, conhece o quanto ela é comprometida com uma apuração de fôlego e atenta aos fatos e às entrelinhas de cada nova declaração feita por autoridades. Nos quase cinco anos em que colabora para a Ponte Jornalismo, Jeniffer foi responsável por produzir especiais sobre políticas de segurança pública, denunciar violações e prisões sem provas, além de desvendar histórias marcadas pela luta por justiça. É por esses e outros fatores que a repórter foi anunciada como uma das finalistas da 16ª edição do Troféu Mulher Imprensa, na categoria “Jornalista Revelação”, no final de julho.

Em entrevista, ela conta que ficou surpresa com a notícia pois não imaginava ser finalista por ter ainda poucos anos de profissão. “Ao mesmo tempo, me deu um quentinho no coração e me senti muito feliz e honrada em ter o trabalho reconhecido, principalmente porque, enquanto mulher, parece que sempre a gente tem que provar duas vezes mais e muitas vezes se questiona sobre a capacidade que tem e os espaços que ocupa”, ponderou.

A tradicional premiação do portal IMPRENSA acontece todo ano como forma de reconhecimento do trabalho de mulheres jornalistas dentro e fora das redações. A votação no site (acesse clicando aqui) está aberta ao público até dia 30 de agosto e os resultados serão divulgados em setembro. Neste ano a edição tem como tema “Pertencimento e Inovação”, com foco nas pautas de direitos humanos, que é justamente a perspectiva que Jeniffer mais privilegia em seus textos.

Formada pela Faculdade Cásper Líbero, ela afirma que o jornalismo entrou na sua vida mais por uma necessidade de formação profissional, que seus pais não tiveram a oportunidade de completar enquanto viviam na Bahia, do que uma vocação. “Ter filha formada é bem representativo porque você só é alguém com estudo, e ela [minha mãe] não queria ver as filhas tendo como ponto máximo se casar e ter filhos”, conta.

Já na faculdade, Jeniffer começou a se envolver com a reportagem ao mesmo tempo que explorava as ruas e a mobilização estudantil que ocupou escolas públicas em São Paulo em 2015. “Em 2016, esse acompanhamento ficou maior, até em ocupação eu dormi com os secundaristas. Perdi meu estágio de assessoria na época porque foi no dia que o então secretário de Segurança Pública Alexandre de Moraes [hoje ministro do STF] mandou a Tropa de Choque para o ocupação do Centro Paula Souza e eu queria ver no que ia dar ao invés de ir para uma atividade administrativa”, recorda.

Na época, a jornalista encarou questionamentos sobre o seu futuro na profissão e tomou como referência suas professoras Bianca Santana, Juliana Serzedello e Ester Gammardella Rizzi, profissionais com experiências em assuntos relacionados aos direitos humanos. Desde então, Jeniffer se identificou como repórter trabalhando no portal da Câmara Municipal de São Paulo e nos jornais Diário de S. Paulo e Agora São Paulo, onde foi freelancer.

Ela conta que, na primeira matéria de rua que fez, precisou acompanhar uma coletiva no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) sobre um roubo a banco e que logo se incomodou que somente a versão oficial fosse ouvida pelos jornais, sem que houvesse questionamentos. “Eu achei estranho que só tinha policial falando, não tinha as pessoas e eu perguntei para o delegado na época em que estavam os advogados de defesa para eu ouvir e ele riu da minha cara. Eu tinha apreendido que a gente tinha que ouvir todo mundo envolvido em alguma coisa.”

O incômodo se tornou ainda maior quando Jeniffer se deparou com o caso do adolescente Luan Gabriel, que foi morto pela PM aos 14 anos após sair de casa para comprar bolacha. O caso de 2017 foi a primeira reportagem que fez como colaboradora na Ponte, onde hoje trabalha como repórter da equipe fixa. Na última quarta-feira (27/7), ela acompanhou o julgamento em que o policial foi absolvido.

“No começo, eu me sentia muito impotente e não tinha muito emocional para lidar com algumas questões. Não que agora eu não me sinta impotente diante de alguns casos e não me comova, mas tem uma coisa que a Cecília Olliveira falou no podcast do Mano Brown de que o jornalismo é feito muitas vezes por pessoas que não se importam com algumas questões e isso se reflete na cobertura”, explica.

Para ela, realizar a cobertura de segurança pública é um desafio diário de lidar com a dor e o sofrimento do outro. “Eu fui percebendo que a gente tem que ser muito honesto e muito consciente do nosso papel, não fazer promessas, não ver a pessoa entrevistada como uma mera fonte para uma reportagem e sim que ela é um ser humano que tem vida, tem expectativa e muitas vezes se coloca em risco para fazer uma denúncia”.

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Como repórter, Jeniffer também lida com temas delicados e perigosos ao realizar uma cobertura crítica sobre a atuação dos agentes de segurança pública, das autoridades e da violência de Estado. Na Ponte, participou da equipe que produziu o especial Um Vírus e Duas Guerras, denunciou problemas em tornozeleiras eletrônicas que prejudicaram presos no interior paulista, fez reportagens especiais sobre a implementação das bodycams, sobre o uso das armas menos letais e a falta de dados sobre a raça das pessoas mortas pela polícia em SP.

Hoje, ela se espelha nas trajetórias das jornalistas Maria Teresa Cruz, Maria Carolina Trevisan e Vera Araújo para também se impor nesse espaço e representar a mídia independente em uma grande premiação. “Eu fico muito feliz de ser um grãozinho junto porque é difícil ter o trabalho citado e reconhecido e porque construir credibilidade é uma luta muito grande. E ver que a gente consegue mudar, nem que seja um pouco, a realidade de alguém já é uma vitória imensa”, finaliza.

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