João Wainer: ‘Os Racionais foram minha primeira inspiração para fazer as coisas que eu faço’

    Na estreia da live “Papo de Rap”, o fotógrafo e diretor falou sobre sua relação com o ritmo e histórias de bastidor dos trabalhos que fez com os Racionais e o MV Bill

    Foto e Rap. Essas são as duas levadas que se cruzam e intercruzam na vida de João Wainer, diretor, fotógrafo e convidado na estreia do Papo de Rap, live sobre a cultura hip hop comandado pelo editor da Ponte, Amauri Gonzo. A conversa foi transmitida ao vivo nesta quarta (21) no YouTube da Ponte.

    Conhecido pela direção de clipes dos Racionais, do MV Bill e do Emicida, entre outros, Wainer contou que quem chegou primeiro na sua vida foi a fotografia. Ainda adolescente, ele fez um curso e já aos 16 anos, foi em busca de um emprego na área, encontrou no extinto Jornal da Tarde e, desde então, nunca mais parou de criar imagens, sejam paradas ou em movimento.

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    O rap chegou em uma fita cassete dos Racionais MC’s, com quem viria trabalhar no futuro.  “Foi aí que comecei a virar um pouco meu foco para a quebrada e comecei a ir atrás do que os Racionais cantavam”, relata. “O Racionais, talvez, foram minha primeira grande referência, minha primeira inspiração para fazer as coisas que eu faço”.

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    E foi o grupo que protagonizou o momento em que o fotógrafo mais se emocionou. Dia das Crianças, final na década de 90, Carandiru, São Paulo. Um show para os detentos no Pavilhão 7. Não muito longe, estava o local onde o massacre do Carandiru havia acontecido pouco mais de cinco anos antes. Os Racionais começam a cantar os famosos versos: “Aqui estou, mais um dia sob o olhar sanguinário do vigia. Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma HK”. João recorda: “Você ouvir diário de um detento dentro do Carandiru. Ao lado, o muro onde aconteceu o massacre foi foda”.

    Soldado do morro

    Entre outras recordações de sua carreira vem uma história curiosa. O rap foi defendido em um gabinete de ministro. Quando Wainer dirigiu seu primeiro clipe, “Soldado do Morro”, música de MV Bill, ele gravou cenas das mais realísticas possíveis, com direito a metralhadoras e tudo. E o caso gerou polêmica, a ponto de ser assunto dos principais telejornais do país.

    Um delegado chegou ao ponto de invadir a gravadora de MV Bill para pedir a fita do clipe, pois, segundo ele, teriam cenas de apologia ao tráfico. “Rolou uma perseguição pesada em cima de todo mundo”, conta Wainer. “Aí, o Celso Athayde, empresário do [MV] Bill, conseguiu conversar com o Zé Gregório, que era o ministro da Justiça e o cara falou: ‘vocês estão loucos, isso aqui é poesia, isso é arte’”. O ministro teve que explicar que Bill não era o soldado do morro, mas um cantor. Além desse apoio ministerial, vários artistas saíram em defesa do clipe.

    “Então, o lançamento do clipe na Cidade de Deus, num palco improvisado que o Caetano [Veloso] foi e cantou Soldado do Morro com o MV Bill”, conta o diretor.

    Playlist e Pixo

    E o que está nas listas de músicas de quem viveu, e vive, em meio a artistas? Racionais, é claro, Sabotage, Nego Galo, Baco Exu do Blues, Função RHK. Ainda que goste do rap “mais antigo”, ele também está aberto a outras tendências. “Estou aprendendo ouvir as coisas mais novas e outras pegadas muito por conta da minha filha”, que já apresentou para ele nomes como MC Caveirinha e Menor Toddy.

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    Para além da música, há outra expressão de arte que chamou atenção de João Wainer: o pixo. Tanto que esse é o nome de um de seus documentários, lançado em um evento meio conturbado no Matilha Cultural em 2010. Para Wainer, as linhas agressivas do pixo e o rap são expressão do caos paulistano. “Esteticamente falando, o pixo é a cara de São Paulo para mim. Toda a loucura da cidade se reflete numa pichação”, analisa.

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