Julia Reis: ‘Encontrei o hip hop como uma parte de me reconhecer’

    Durante o Papo de Rap, série de lives da Ponte, a CEO da Brasa Mag falou do lançamento da plataforma e sobre as origens do rap na sua vida

    Apresentar algumas pessoas, por vezes, é algo simples, um ou dois adjetivos profissionais e pronto. Fulano é médico, sicrano dentista. Mas não é o caso de Julia Reis, que, aos 21 anos, é: jornalista, apresentadora, roteirista, modelo, DJ, community manager no programa Conversa com Bial, produtora de conteúdo no canal Rap, Falando e, mais recentemente, criadora e CEO da Brasa Mag, nova plataforma dedicada à cultura hip hop.

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    Mesmo com essa vida atarefada, Julia chegou no Papo de Rap na última quarta-feira (14/11) para falar da sua relação com a cultura do rap e o lançamento da Brasa Mag.

    Brasa

    Composta por 26 pretos, (a maioria mulheres) a Brasa Mag é, segundo Julia, uma “revista digital sobre hip hop”.  “Essa ideia surgiu por que eu sentia falta de ver mulheres pretas como protagonistas nessa parte de análise do hip hop”, ela explica. A plataforma será transmidiática, ou seja, contará com diferentes formatos e redes sociais para divulgar seu conteúdo.

    Tudo começou com um tweet. 250 respostas de mulheres interessadas em participar do projeto depois, 30 profissionais foram selecionadas por Julia, entre jornalistas, designers, desenvolvedoras, especialistas em marketing, audiovisual que, em pouco mais de 3 meses, pensaram na estratégia e foram a construindo até chegar a base que têm nas redes sociais hoje em dia.

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    A mais nova CEO do país define diz que a Brasa Mag, que deve lançar o site ano que vem, é flexível e baseada na coletividade e na resposta do público.  “A ideia é que a gente evolua nesse âmbito tecnológico, colocando isso ao nosso favor e voltando para as ruas”, explica.

    O futuro da Brasa? A multiprofissional revela que os planos são diversos. “A gente tem muitos planos. Planos de podcast, de revista física, de evento. É uma brisa de organizar prioridades e saber quando chegar a hora certa”.

    Origens

    Cria do Campo Limpo, moradora de Taboão da Serra, Julia revela que seu pai sempre ouviu rap, sempre abaixando o volume da música quando vinha uma palavra não muito adequada para uma criança. “Eu nunca ouvi muitas músicas do Sobrevivendo no Inferno, por exemplo, porque ele achava que eram muito pesadas”, conta.  Da infância, a favorita ficou sendo “O Quinto Vigia”, de Ndee Naldinho, que ouvia junto com a irmã. “Até hoje, se a gente ouve a gente fala: ‘nossa, aquele drop’”.

    Na adolescência, o repertório seguiu em expansão: 3Fs, Projota, Cone Crew eram alguns dos sons que ouvia, sem ainda se identificar com a cultura hip hop. Isso só acontece quando ela se reconheceu como mulher negra aos 17 anos, na faculdade. “[Foi] quando uma moça do campus que era do coletivo de negros da faculdade, me parou e me convidou para ser parte do grupo. Aí eu falei: eu sou negra? e ela: sim, você é’”, relata seu processo de descoberta. “Encontrei o hip hop como uma parte de me reconhecer”

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    Após pesquisar muito e ouvir muitos sons, ela define que seu elemento favorito em uma música é o inesperado. “É aquilo que eu não estou esperando, aquela punch line naquele momento, daquele jeito. Essa surpresa é o que me pega de jeito”.

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    Como não poderia deixar de ser, os Racionais estão presentes no repertório de Júlia. “A gente sempre ouve Racionais, eles tão muito presentes pra quem anda na rua e pra quem vive essa cultura”, reflete. Mas só experiência mais profunda, de avaliar as letras e seus contextos, aconteceu quando ouviu Cores e Valores.  Para ela, ouvir a obra do grupo é um ponto definidor na vida de qualquer pessoa e aponta como seu disco favorito Nada Como um Dia Após o Outro Dia por sua musicalidade.

    Cabeças pensantes

    “Eu vejo uma problemática dos acadêmicos, dos caras que analisam; é a chave da questão”, aponta a falta de diversidade de análises acadêmicas voltadas para elementos da cultura negra como a cultura do hip hop. “Esses poucos não aceitam que foram essas pessoas [pretas, indígenas e periféricas] que construíram o país, que estão carregando nas costas de modo cultural e intelectual”, critica Julia.

    “A gente tá construindo o nosso há muito tempo, e ficando grande, crescendo, crescendo enquanto os caras estão ali dormindo no ponto”

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