Intenção é diminuir a facilidade com que os líderes comandam a facção de dentro dos presídios; autoridades temem reedição de ataques ocorridos em 2006
Promotores do Gaeco (Grupo de Repressão e Combate ao crime Organizado) encaminharam ao Poder Judiciário, há 15 dias, o pedido de transferência desses 15 presos, apontados como líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), para fora de São Paulo.
O processo para decidir se haverá ou não a transferência dos detentos para penitenciárias federais está em fase de conclusão na Justiça. Esses presos são apontados pelo Ministério Público Estadual como as principais lideranças do PCC, a maior facção criminosa do país.
A foto deles aparece no topo do organograma do PCC em diversas denúncias feitas pelo Gaeco à Justiça de São Paulo, desde 2013. A maioria cumpre pena na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Desde 2006, esse presídio é considerado o escritório-sede do Primeiro Comando da Capital.
É de lá que a liderança da facção controla os negócios do tráfico de drogas e compra de armas; planeja fugas, resgates e mortes de autoridades; e cuida dos projetos de expansão da organização para outros Estados da Federação e países do Mercosul.
O Ministério Público Estadual já havia solicitado, anteriormente, a remoção de alguns desses líderes para presídios federais. A Justiça, no entanto, negou o pedido. Segundo fontes do Gaeco, até o ano passado, o PCC comandava, da P2 de Presidente Venceslau, a exportação de uma tonelada de cocaína por mês para a Europa. Para se ter uma ideia do lucro da facção apenas com o tráfico de drogas, no mercado internacional, o quilo da cocaína chega a custar 25 mil dólares.
Nos presídios federais, onde a vigilância é bem mais rígida – até porque o número de presos é infinitamente menor e o de agentes é bem maior do que na P2 de Venceslau -, é quase impossível uma facção fazer da prisão um escritório-sede do crime.
Nos bastidores de departamentos policiais, os rumores são de que as autoridades temem que as transferências dos presos possam ocasionar uma reedição dos ataques de maio de 2006. Agentes prisionais já receberam ameaças de morte em caso da transferência se concretizar. Essa hipótese é veemente negada pelas Polícias Militar e Civil.
E isso porque ao menos outros 10 líderes do PCC, como Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka; Roberto Soriano, o Tiriça; Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho; Paulo Cesar Souza Nascimento Júnior, o Neblina; Erick Farias, o Gordão; Cláudio Barbará e Célio Marcelo da Silva , o Bin Laden, já estão em presídios federais.
Em maio de 2006, o PCC paralisou São Paulo em represália ao isolamento de 765 presos da facção, justamente na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Na ocasião, os presos se rebelaram em 71 unidades prisionais. Nas ruas, os “soldados” da organização criminosa mataram ao menos 48 agentes públicos, entre policiais e funcionários do sistema prisional.
No mesmo período foram assassinadas 493 pessoas no Estado. O episódio ficou conhecido como os “Crimes de Maio”. As suspeitas são de que boa parte dos assassinatos foi praticada por policiais e o total de civis mortos é questionado por entidades de direitos humanos, com número acima de 500 vítimas.
A preocupação das autoridades em transferir os presos aumentou no último sábado, quando foi anunciada a descoberta de um plano do PCC para matar duas autoridades, em represália às possíveis remoções de seus líderes.
Os alvos seriam o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que desde 2006 investiga as ações do grupo criminoso, e do coordenador dos Presídios do Oeste do Estado, Roberto Medina, responsável por mais de 50 mil presos, incluindo os da P2 de Venceslau. Ambos tiveram a segurança reforçada. Eles estão sob forte escolta policial desde anteontem e, em resposta, o MP criou uma força-tarefa contra o PCC.