Policial acerta golpe de cassetete no rosto antes de outro apoiar joelho e imobilizar jovem rendida; duas manifestantes foram presas e responderão por dano qualificado e resistência
Pelo segundo ato consecutivo do MPL (Movimento Passe Livre), contra o aumento da passagem do transporte público e a favor do passe livre, a Polícia Militar do Estado de São Paulo deteve duas mulheres em ação truculenta. A quarta manifestação do movimento aconteceu no centro da cidade de São Paulo no fim da tarde desta quinta-feira (23/1). As duas foram presas e responderão por dano qualificado e resistência à prisão, com audiência de custódia na manhã desta sexta-feira (24/1).
Policiais homens agiram contra duas jovens na estação Anhangabaú após o fim do ato e dispersão feita a um quilômetro dali, na estação Liberdade. Depois que os manifestantes correram pelo centro da capital paulista, pelo menos cinco PMs foram em cima das manifestantes e, com elas já rendidas, um policial apoiou todo o peso do corpo com o joelho em uma delas, enquanto outro PM homem puxava o braço da garota para trás. “Eu já estou rendida”, ela repetia, dizendo sentir dor no braço. Antes dela cair, um PM dá um golpe de cassetete em seu rosto e a jovem cai.
No protesto do dia 16 de janeiro, o terceiro puxado pelo MPL, policiais homens puxaram duas manifestantes pelo cabelo e pescoço enquanto as levava para a viatura e, posteriormente, à delegacia. A manifestante Andreza Delgado alegou ter ficado 45 minutos esperando a viatura e de ter ficado 8 horas na delegacia com outros 9 detidos. Na oportunidade, todos foram soltos ao assinarem um termo circunstanciado.
As duas garotas, Maria Gabriela Fernandes e Maria Vitória Ferreira, passarão por audiência de custódia no Fórum da Barra Funda, zona oeste da capital paulista, às 10h. Até lá, ficarão presas no 2º DP (Bom Retiro). Para o advogado Flávio Campos, que defende as duas, o delegado cometeu um abuso. “Os PMs imputam a elas uma pedra jogada na fachada de um shopping, mas não tem uma gravação, uma prova, uma testemunha. Só essa palavra que em depois de uma discussão. É uma ilegalidade muito grande. O elemento de convicção é a palavra dos policiais afetados pelo que eles mesmos chamam de uma resistência à prisão”, criticou o defensor.
A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, administrada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre as ações de policiais homens contra manifestantes mulheres em dois atos seguidos. De acordo com a SSP, a ‘Polícia Militar trabalha para garantir o direito à livre expressão e a segurança de todos que desejam participar de manifestações no Estado, assim como daqueles que não participam”, assegura, em nota enviada à reportagem.
No posicionamento, a pasta explica que três prisões se deram pro “depredação ao patrimônio e uma por agressão a um Policial Militar”. A SSP não especificou a depredação nem a agressão ao PM que imputam aos manifestantes. Sobre a ação contra mulheres, ocorridas neste ato e na manifestação anterior puxada pelo MPL, a secretaria afirma que “a ação da polícia segue rigorosos procedimentos na busca da proteção de pessoas e patrimônio, treinados à exaustão por todos os seus membros”.
Marcha sem transtornos
As ações do MPL têm como objetivo impedir o aumento no valor da tarifa do transporte público e discutir a questão como uma demanda popular, pauta levada neste quarto ato. O grupo afirma que não há debate com a sociedade quanto ao passe livre, uma demanda que vem desde a fundação do movimento, nem de qual impacto um aumento como o ocorrido neste ano, de R$ 4,30 para R$ 4,40, traz para a população periférica e pobre.
O protesto teve início no terminal de ônibus Parque Dom Pedro II, no centro de São Paulo. Dali, o grupo andou pelo centro da cidade, passando pela Praça da Sé, Secretaria Estadual de Transportes e Prefeitura de São Paulo antes de chegar na estação Liberdade do metrô. Os gritos conta o aumento da passagem e cobrando passe livre permaneceram próximo da estação, enquanto tropas da PM estavam no local. Havia o Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), cavalaria e uma viatura da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a tropa mais legal da PM).
Em determinado momento da manifestação, enquanto os manifestantes estavam parados na Liberdade, um policial militar do Baep intimidou o fotógrafo da Ponte, Daniel Arroyo. “Ó o Daniel Arroyo aí?”, disse o homem mascarado, que não se identificou quando questionado pelo profissional. Ele estava perfilado com outros PMs do Baep, todos de escudo, balaclavas e capacete.
Quando os manifestantes se preparavam para encerrar a ação, ovos foram jogados em direção à tropa do Baep que estava perfilada em frente a um banco, o que gerou reação da PM, com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. O grupo se dispersou pelo centro da cidade, com parte indo em direção à praça da Sé. Na rua Direita, um grupo tentou depredar a fachada de prédios, com um dos homens lançando um coco nos vidros e portas de metal. PMs em viaturas acompanharam o grupo e só saiu para abordá-los no Viaduto do Chá. Cerca de 300 metros adiante, as duas garotas foram presas.
Os três primeiros atos tiveram violência da Polícia Militar paulista. No primeiro deles, um grupo de 32 pessoas foi preso para “averiguação”, dentre eles estava o fotojornalista Rodrigo Zaim. No segundo dia de protestos, os policiais revistaram jornalistas identificados como profissionais em trabalho e usaram gás lacrimogênio, atingindo pessoas dentro do Metrô, entre elas crianças.
Já o terceiro ato começou com o impedimento da pessoas saírem do Theatro Municipal, local de concentração do ato, e violência da polícia, que mais uma vez agrediu manifestantes e jornalistas. O fotógrafo Daniel Arroyo levou golpes de cassetete no primeiro protesto e três chutes de um PM no terceiro, marcado pela cena de um PM arrastando uma manifestante mulher pelos cabelos, enquanto outra, menos de idade, era puxada pelo pescoço.