Ainda com a mudança do ato para o Largo São Francisco, militares revistaram manifestantes e público em geral para poder passar em frente ao prédio público
O MPL (Movimento Passe Livre) pretendia se manifestar contra o aumento da tarifa do transporte público de São Paulo, de R$ 4,30 para R$ 4,40, em frente à SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, no centro da capital paulista. Neste quinto ato, pretendiam criticar em frente ao prédio no qual trabalho o secretário, general João Camilo Pires de Campos, pela violência da PM nos protestos feitos anteriormente neste ano. No entanto, recuaram com um bloqueio feito pela PM na quadra em que fica a secretaria. O ato aconteceu cerca de 150 metros do espaço planejado.
Agendada para às 17h, a concentração não pode ser feita na frente do prédio em que a pasta fica, pois a tropa montou um bloqueio em praticamente toda a quadra no entorno da secretaria. Na região fica localizada, além da SSP, a Prefeitura de São Paulo e a Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo). Os manifestantes poderiam passar, contanto que fossem revistados. “Preferimos ficar aqui, consideramos mais seguro desse lado”, respondeu uma manifestante quando questionada por um dos PMs mediadores se o grupo não iria à frente da SSP.
Todas as pessoas que passavam pelo local eram paradas, em especial as que utilizavam bolsas e mochilas. A Rua São Francisco, que faz esquina com a Líbero Badaró, onde está sediada a secretaria, é utilizada por trabalhadores e estudantes que rumam ao Terminal Bandeira, com ônibus para os quatro extremos da capital paulista. Quem decidia passar pelo bloqueio tinha que se identificar e deixar os PMs olharem seus pertences. Depois, seguia tranquilamente o seu rumo.
“Aqui é considerado área de segurança, por isso o bloqueio. Também fizemos por conta dos atos anteriores, quando foram encontrados coquetéis molotovs com os manifestantes”, explicou um dos PMs mediadores à Ponte, sem detalhar quem e em qual dia foi pego com garrafas incendiárias. Antes do ato começar, um fotógrafo foi revistado e o policial questionou se ele tinha feito credenciamento para cobrir a manifestação, burocracia nunca pedida neste tipo de cobertura. Após conversa, ele seguiu para trabalhar sem ter de se identificar para os mediadores, como o outro PM havia solicitado inicialmente.
O MPL puxou quatro outras manifestações em 2020 para demonstrar insatisfação com o aumento no valor da tarifa do transporte público. Além disso, o movimento critica o fato do transporte ser visto como um negócio e cobram o passe livre e tarifa zero para todos. “É importante [protestarmos], manter a discussão porque a discussão do transporte não se resume só ao aumento. O MPL mostrou muito bem que a discussão das concessões, cortes de linhas [de ônibus] afetam muito a população. É um aumento mais a exclusão das linhas que tira a população [o direito de ir e vir]”, explica uma manifestante, em conversa com a Ponte, pedindo anonimato.
Quem passava pelo local demonstrava interesse pelo protesto. “Sabe que horas vai começar”, questionou uma jovem à reportagem, que confirmou participar caso o ato marchasse, como nas edições anteriores. “Eu não sei exatamente porquê participaria, mas precisamos falar sobre o preço da passagem. Eu moro na Penha [bairro na zona leste de São Paulo] e pego um ônibus e um metrô para chegar no centro, vai uma boa grana por semana, bem mais de R$ 40”, comenta a mulher, que preferiu não se identificar, e acompanhou o ato por uns 15 minutos antes de ir embora com uma amiga. Elas não chegaram a ver o incêndio de uma catraca, marca dos atos do MPL.
Nos atos anteriores, a Polícia Militar do Estado de São Paulo agiu de forma diferente da barreira feita nesta quinta-feira: agrediu manifestantes, entre elas mulheres (que foram puxadas pelos cabelos), usou gás lacrimogênio que afetou passageiros em estações de metrô, deteve fotógrafos, bateu em jornalistas e revistou repórteres. Todos os profissionais citados estavam identificados e trabalhavam nas manifestações. “Mostra um modus operandi da polícia, que é machista e racista, lado violento, mesmo. E mostra que eles não se sentem constrangidos em fazer esse tipo de coisa”, criticou uma manifestante, sobre as violências contra as mulheres protagonizadas por PMs homens.
O protesto anterior, no dia 23 de janeiro, terminou com quatro pessoas detidas, sendo que duas jovens permaneceram presas e passaram por audiência de custódia na manhã do dia seguinte. Elas respondem em liberdade as acusações de dano qualificado e resistência.
A reportagem questionou a SSP sobre o motivo do cerco feito ao prédio da pasta para evitar que manifestantes do MPL se concentrassem e se manifestassem na porta da pasta e aguarda um posicionamento oficial. Em nota enviada às 9h09 de sexta-feira (31/1), a InPress, assessoria de imprensa terceirizada da pasta, explicou que “a Polícia Militar informa que montou um esquema de segurança, como de praxe em casos de manifestações, com a realização de abordagens a fim de evitar materiais ilícitos ou que pudessem causar risco a integridade dos participantes do ato, sendo eles manifestantes, profissionais de imprensa, policiais e população circulante na região”, explica.
Segundo a SSP, o total de PMs utilizados no bloqueio não é informado por ser “informação estratégica”. Havia ao menos 120 policiais no bloqueio e em seu entorno.
Atualização às 13h27 do dia 31 de janeiro para incluir posicionamento da SSP.