Grupo traficava drogas e fuzis vindos da Bolívia e direcionava ao Alto Tietê; inicialmente, corporação não conecta investigação com as mortes de Gegê do Mangue, líder da facção nas ruas, e de outro integrante
A PF (Polícia Federal) desarticulou uma quadrilha de tráfico de drogas e armas atuante em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Segundo as investigações, o grupo tinha ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital) e direcionava os produtos no Alto Tietê, ainda na região metropolitana da capital paulista. Em um primeiro momento, o caso não está conectado com os recentes conflitos internos na facção.
Foram presas 10 pessoas e duas ainda eram procuradas pelos policiais no anúncio da Operação Frater (irmão, em latim). O nome escolhido faz referência a dois membros e cabeças da quadrilha que são irmãos. Os investigadores explicaram que apenas um deles é membro do PCC, mas sem determinar qual a hierarquia na facção. Ao todo, 11 fuzis originários da Bolívia, duas pistolas, munição, bloqueadores de celulares e quase 900 quilos de cocaína foram apreendidas ao longo de dois anos de trabalhos.
Os agentes envolvidos nos dois anos de apuração, inicialmente, não ligam o caso com a recente morte de dois líderes do PCC no Ceará. “À princípio, não. Não temos nenhum elemento para aponta nesse sentido”, sinalizou Rodrigo de Campos Costa, delegado regional de investigação e combate ao crime organizado da PF em São Paulo. “Vamos apurar lavagem de dinheiro, com mais profundidade a questão da origem das armas, como entraram no Brasil. Essa investigação é apenas uma fase de outras que virão”, seguiu.
Através de empresas de fachada e laranjas, a quadrilha atuava em Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes lavando dinheiro. Uma concessionária de automóveis, dois açougues e até uma igreja eram usadas para esta finalidade. Além de dois dos 10 membros atuarem como traficantes, os demais revezaram na distribuição do produto e outras funções, como corretor de imóveis e pastor da igreja, a fim de possibilitar a lavagem.
Os presos nesta quarta-feira (21/2) se somam a outros dois membro do grupo presos em ação em abril de 2016. Na época, mais de 800 quilos de cocaína e dois fuzis foram apreendidos, dando início às investigações que culminaram na desarticulação da quadrilha. Os indiciados ficarão 30 dias em prisão temporariamente – prorrogáveis por mais 30 dias – e, posteriormente, a PF representará pedido de prisão preventiva.
Apesar de a PF não associar a quadrilha com os acontecimentos recentes internos do PCC, a origem dos fuzis se trata de área de interesse da facção, que busca se articular nos países vizinhos do Brasil, dentro dessa lista justamente a Bolívia. Antes do assassinato de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, informações extraoficiais apontavam que Gegê, o líder número 1 do PCC nas ruas, estava na Bolívia justamente com a função de aprimorar o tráfico de armas e de drogas na região.
Na quinta-feira (15/2), ele e seu comparsa foram mortos em uma emboscada de helicóptero na região de Aquiraz, no Ceará – crime que fez o Governo Federal antecipar ida de força-tarefa ao Estado. Segundo investigações do MP, os próprios líderes do PCC são os mandantes do crime com a hipótese de Gegê e Paca estarem desviando dinheiro do crime organizado e, também, por possível ligação com a morte de Edílson Borges Nogueira, o Birosca, em dezembro do ano passado.
Um indício para a morte da dupla ter sido a mando do próprio comando é o fato de não ter ocorrido luto nas prisões, ainda segundo o MP. Quando um membro do Partido morre, os prisioneiros fazem uma roda no centro da quadra das cadeias, abaixam a cabeça em sinal de respeito ao morto, rezam o Pai Nosso e depois entoam o tradicional grito de guerra da organização criminosa: “PCC, 1533, PCC, 1533. Um por todos e todos por um. Um por todos e todos por um”. A milhar 1533 corresponde aos números das letras da sigla da facção criminosa no alfabeto. O 15 é o P. O 3 é o C. Logo, PCC é igual a 1533.
Na época da morte de Birosca, os líderes estavam presos em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), sem comunicação. A suspeita é que Gegê atuou sem consultá-los e Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo MP de São Paulo como líder máximo do grupo, teria “cobrado” Gegê pelo crime. Apesar de excluído da facção, Birosca era tido como um preso querido dentro do sistema por ajudar outros presos. Ele era batizado no PCC por Marcola (quem o indicou e deu aval para a entrada no grupo) e tinha como afilhado Daniel Vinícius Canônico, o Cego, outro membro da cúpula.
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Ei, antes de ir embora,
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