Integrante do PCC foi preso acusado de participar do assassinato do jornalista em Pedro Juan Caballero, mas investigação ainda não chegou ao mandante
Três meses após o assassinato do jornalista Léo Veras, as investigações ainda não apontaram o mandante do crime. Ele foi morto com 12 tiros, quando jantava na sala de casa com a família, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. No dia 1º de maio, também naquela cidade, policiais prenderam Waldemar Pereira Rivas, conhecido como “Cachorrão”, que estava foragido desde fevereiro e é considerado o principal suspeito de envolvimento na morte de Veras. Ele foi detido após ser reconhecido por policiais paraguaios, depois de causar um acidente de trânsito.
Levado no dia seguinte para Assunção, Rivas foi acusado pelo procurador Marcelo Pecci, que lidera a força-tarefa que investiga o caso, por homicídio doloso e associação criminosa. Segundo informações, “Cachorrão” integra a quadrilha de traficantes do PCC que atua na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Ele nega o crime e já afirmou, em entrevista a uma rádio, em fevereiro deste ano, que era amigo da vítima e que poderia comprovar isso. A viúva do jornalista e sua família continuam com escolta 24 horas da polícia paraguaia. Ela prefere não comentar o caso e aguarda o julgamento.
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“Cachorrão” mora a poucas quadras da casa do jornalista assassinado e é o proprietário do Jeep Renegade branco, que teria sido usado para transportar os três homens que estiveram na casa de Léo Veras na noite de sua execução. Segundo informações, ele teria um vídeo a ser apresentado em juízo para confirmar sua versão: que tem um carro semelhante e que não participou do crime. No entanto, até agora, esse vídeo não foi apresentado ao Ministério Público do Paraguai.
Há também uma informação, não confirmada pelas autoridades, de que ele teria abrigado um dos pistoleiros que invadiram a casa do jornalista. Dois entraram pela porta da frente e o terceiro, que entrou pela rua lateral, acabou sendo baleado por um dos seus comparsas. O bandido foi visto por vizinhos do jornalista morto sendo retirado do local pelos outros dois. A sua identidade ainda não foi revelada.
Segundo o promotor Marco Amarilla, que integra a força-tarefa, as provas estão sendo coletadas e serão analisadas durante a investigação. O próximo passo será o requerimento conclusivo, ou seja, a denúncia contra o acusado que será levado ao tribunal. Amarilla explicou que diferente do Brasil, no Paraguai, o tribunal não tem júri popular. O caso será julgado, ainda em 2020, por três juízes, estando também presentes um promotor e a defesa do réu. Com as medidas de segurança devido à pandemia da Covid-19, a Justiça do Paraguai deverá voltar a funcionar na semana de 18 de maio.
Envolvimento do PCC
O promotor disse ainda não estar descartado o envolvimento de Ederson Salinas Benitez, conhecido como Salinas Ryguasu, chefe do PCC na região. O traficante foi preso na madrugada de 20 de janeiro de 2020, quando se envolveu em uma briga de trânsito que resultou em sua prisão. Após ser ultrapassado por um motorista xingando e mostrando uma arma, Ryguasu foi atrás do condutor, fechou-o e saiu do carro com arma em punho, gritando que era o chefe e mandava na região. A discussão foi interrompida por policiais e ele foi detido.
Ao chegar à delegacia, apresentou um documento brasileiro com o nome de Edson Barbosa Salinas e, como não havia nada no histórico policial, o juiz de plantão arbitrou uma fiança de R$ 80 mil para liberá-lo. O suspeito seria liberado não fosse por uma informação repassada à Justiça pela Polícia Federal. Os agentes da PF, com o auxílio da polícia paraguaia, confirmaram que o documento brasileiro era falso e que a verdadeira identidade do preso era Ederson Salinas Benitez, o Ryguasu.
Na época, circulou uma informação de que Léo Veras teria sido o responsável por comunicar às autoridades a verdadeira identidade do narcotraficante. Por esse motivo, Salinas Ryguasu teria dado a ordem de execução do jornalista.
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Em 11 de março de 2020, um habeas corpus beneficiou Ryguasu, e o narcotraficante deixou a Penitenciária Estadual de Dourados, onde estava preso desde janeiro, depois de apresentar dez boletos que somavam o valor da fiança e ser informado de que teria de comparecer todo mês para comprovar endereço fixo.
No entanto, segundo a assessoria do juiz Marcelo Guimarães, com as medidas de segurança tomadas após a pandemia, essa obrigatoriedade está suspensa. A Justiça em Ponta Porã, onde ele foi preso, está atendendo apenas aos casos considerados urgentes de réus presos.
Programa Tim Lopes
O assassinato do jornalista Léo Veras é o terceiro caso a ser incluído no Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji, com o apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis.
Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.
O assassinato do radialista Jefferson Pureza, 39 anos, em Edealina Goiás, em 17 de janeiro de 2018, foi o primeiro caso acompanhado pelo programa. Ele foi morto enquanto descansava na varanda de sua casa. O ex-vereador José Eduardo Alves da Silva, 41 anos, foi acusado de ser o mandante e, no julgamento ocorrido em 2019, ele optou pelo silêncio. Na ocasião foi julgado também o caseiro Marcelo Rodrigues dos Santos, 40 anos, acusado de ter apresentado os menores envolvidos no crime ao vereador. Segundo as investigações, o assassinato foi negociado por R$ 5 mil e um revólver.
Em julgamento no dia 9 de dezembro de 2019, o júri popular absolveu os dois acusados de envolvimento no crime, apesar de reconhecer a participação deles no caso e na corrupção de menores que praticaram o assassinato. A acusação entrou com recurso pedindo novo julgamento.
O segundo caso é o do radialista Jairo de Sousa, de 43 anos, morto na madrugada de 21 de junho de 2018, com dois tiros no tórax quando chegava para trabalhar na rádio Pérola FM, em Bragança, no Pará. O suspeito de ser o mandante é o vereador Cesar Monteiro. Ele teria contratado um grupo de dez pessoas para realizar o crime. Segundo os autos do inquérito, o assassinato teria custado R$ 30 mil.
Em maio de 2019, o vereador Cesar Monteiro teve a prisão preventiva revogada, após o Tribunal de Justiça do Pará conceder-lhe um habeas corpus. No entanto, em 8 de abril de 2019, ele foi preso novamente acusado de ser o mandante da morte do radialista. Ainda não há data marcada para o júri popular.
O Programa Tim Lopes é uma reação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) à violência contra jornalistas. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, O Globo e Veja.