Servente de pedreiro desaparece após abordagem da PM em comunidade de Maceió

    Familiares disseram que três policiais teriam levado Jonas Seixas da Silva, 32 anos, sem mandado no dia 9 de outubro. Antes, PMs tinham invadido sua casa e intimidado filhos

    Jonas Seixas, desaparecido em Maceió desde 9 de outubro | Foto: Arquivo Pessoal

    Dona Claudineide Seixas, 57 anos, não dorme desde a noite do dia 9 de outubro. Seu filho do meio, Jonas Seixas da Silva, de 32 anos, desapareceu desde então, após ser levado por policiais militares na Grota do Cigano, no bairro do Jacintinho, em Maceió, capital de Alagoas. 

    Jonas estava voltando do trabalho quando foi abordado por três PMs e colocado numa viatura. Minutos antes da prisão, a guarnição esteve na casa do ajudante de pedreiro. Segundo a esposa dele, Angélica Maria, os policiais invadiram a residência onde eles moram na presença de dois filhos pequenos.

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    Sem mandado judicial, os militares diziam ter ordens para prender o trabalhador. Depois de mexer no guarda-roupa de um dos quartos e espalhar objetos pelo chão do cômodo, os agentes da segurança pública foram embora, mas encontraram Jonas descendo a grota.

    Entre os becos da comunidade, de acordo com relatos de familiares e vizinhos, os militares jogaram spray de pimenta nos olhos dele e o puseram na viatura. Dois dos três policiais envolvidos na abordagem foram reconhecidos por moradores: eles foram identificados como tenente Lima e Wallace, de patente não anotada.

    Com a movimentação, vizinhos foram chamar a esposa da vítima. Atordoada, Angélica tentou acompanhar o marido, mas foi impedida pelos policiais. Eles disseram que Jonas seria encaminhado para a Central de Flagrantes de Maceió, porém minutos após a viatura sair, no final da tarde, os familiares foram até a Central e não o localizaram. A busca se estendeu, sem sucesso, para todas as delegacias da capital, hospitais e até ao Instituto Médico Legal.

    Claudineide Seixas, a direta, ao lado da tia de Jonas, Maria, em protesto contra o desaparecimento | Foto: Josian Paulino

    Após 24 horas sem informações, familiares, amigos e vizinhos da comunidade fizeram um protesto fechando a principal avenida do bairro do Jacintinho para cobrar das autoridades respostas sobre o desaparecimento do homem. Na última quinta-feira (15), frequentadores de uma igreja protestante e movimentos populares de Maceió promoveram um ato no calçadão do comércio da capital alagoana para chamar atenção da sociedade sobre o sumiço. 

    Sem mandado

    Claudineide Seixas, mãe da vítima, esteve presente ao ato e ressaltou que em nenhum momento os PMs apresentaram qualquer tipo de mandado de prisão ou de busca e apreensão na casa da vítima.

    A Ponte consultou o portal do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça,  sistema eletrônico que auxilia as autoridades judiciárias da justiça criminal na gestão de documentos relacionados às ordens de prisão/internação e soltura expedidas em todo o território nacional, mas não localizou qualquer mandado contra o servente de pedreiro. Essa informação pode levar a crer que a abordagem anterior ao desaparecido não teve qualquer fundamento.

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    “Jogaram ele dentro da mala da viatura e botaram spray de pimenta no rosto e ele começou a gritar pedindo água porque ele estava passando mal. A todo momento pediram para mostrar o mandado e nada”, relembra Claudineide.

    Com oito dias do desaparecimento, os filhos de Jonas começaram a sentir a falta do pai e choram todos os dias. “Ele tem dois filhos. A filha mais nova tem oito anos e viu o que aconteceu. Ela diz assim: ‘olha, vó, eles pegaram o meu pai, a polícia pegou o meu pai, meu pai não fez nada, por que isso, vovó?’. Eu já não sei mais o que fazer e fico sem saber o que falar para eles”, argumenta  Seixas.

    Claudineide afirma ainda que Jonas é querido por todos na região onde mora e é conhecido por ajudar os vizinhos em pequenos serviços.

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    “Eu estou a base de remédios desde então. A esposa dele nem se fala. Meu filho é uma excelente pessoa, faz bem para todo mundo. Eu preciso dele de volta para eu voltar a viver. Já procurei em todos os lugares e até aqui não tenho qualquer perspectiva”, lamenta.

    A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Alagoas – recebeu a denúncia e está prestando apoio à família da vítima. De acordo com o vice-presidente da Comissão, Daniel Gueiros, houve remessa de ofício a diversas autoridades.

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    “Estamos acompanhando mais este caso. Indagamos se já houve instauração de inquérito, tendo em vista que a informação repassada é de que há câmeras de monitoramento próximo do local da abordagem”, adianta o advogado.

    Sobre o assunto, a Polícia Militar de Alagoas (PM-AL), comandada pelo governador Renan Calheiros Filho (MDB), informou  por meio de sua assessoria de comunicação que a Corregedoria do órgão recebeu a denúncia feita sobre o caso e deu início aos trâmites legais quanto à investigação.

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