Victor Cristilder Silva dos Santos havia sido expulso da PM de SP em 2019; com novo julgamento que o absolveu em 2021, ex-cabo entrou com mandado judicial e Justiça determinou que governador avaliasse o caso
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) acatou o pedido do ex-cabo Victor Cristilder Silva dos Santos para voltar a trabalhar na Polícia Militar do Estado de São Paulo. A determinação foi publicada na edição desta quinta-feira (4/5) do Diário Oficial do Estado.
Cristilder havia sido expulso da corporação em 2019, um ano depois de ter sido condenado a mais de 119 anos de prisão por 17 dos 23 assassinatos ocorridos em 2015, que ficaram conhecidos como Chacina de Osasco e Barueri, a maior matança do estado.
Contudo, o júri foi anulado e, em 2021, o ex-cabo foi absolvido das acusações em novo julgamento. Ele também tinha sido inocentado, um ano antes, de oito assassinatos que antecederam a chacina. Na época, o advogado João Carlos Campanini, que representou Cristilder, usou o vídeo onde uma promotora calunia o Movimento de Mães de Maio para defender os réus, dando a entender que o movimento das mães da vítimas tinha ligação com o crime organizado.
Com as absolvições transitadas em julgado, ou seja, sem possibilidade de recurso, o ex-PM entrou com pedidos de reconsideração do processo administrativo que resultou na expulsão. Como a resposta ainda não havia sido dada, a defesa ingressou com um mandado de segurança no Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), em 2022, para acelerar a revisão. Em 27 de abril deste ano, os desembargadores determinaram que o Governo do Estado tinha 30 dias para avaliar a solicitação do ex-PM, o que aconteceu antes do prazo se encerrar.
À Ponte, o advogado João Carlos Campanini comemorou a decisão. “A decisão publicada nesta data finalizou o grande sofrimento que esse policial militar passou. A Justiça, a Polícia Militar e sobretudo a sociedade, deviam isso a ele”, disse.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública e aguarda resposta.
A Chacina de Osasco e Barueri
O processo da chacina de Barueri e Osasco condenou os ex-PMs Fabrício Eleutério e Thiago Henklain, em setembro de 2017, a cumprir 255 anos, 7 meses e 10 dias; e a 247 anos, 7 meses e 10 dias de prisão, respectivamente.
Em março de 2018, Victor Cristilder Silva dos Santos foi condenado pelas execuções de 17 pessoas e a tentativa de matar outras 7 em 13 de agosto de 2015 com pena de 119 anos, 4 meses e 4 dias de prisão.
Victor Cristilder, Fabricio Eleutério e Thiago Henklain foram expulsos da corporação em 2019. Eleutério ainda vai ser submetido a julgamento, em junho deste ano, por suposta participação em grupo de extermínio em Osasco.
Contudo, ainda em 2019, Cristilder e o guarda civil municipal (GCM) de Barueri Sérgio Manhanhã tiveram suas sentenças anuladas pelo Tribunal de Justiça.
Na época, o TJ alegou que as provas usadas pela acusação eram insuficientes para confirmar a participação dos dois na chacina. Em fevereiro de 2021, os dois foram absolvidos após júri popular. No julgamento, o advogado João Carlos Campanini, que fazia a defesa dos acusados, exibiu um vídeo em que uma promotora faz calúnias com a aparente intenção de ligar Zilda Maria de Paula a uma visão criminalizada do Movimento Independente Mães de Maio.
No registro, Ana Molinari afirma, sem provas, de que as ativistas eram mães de traficantes e, depois das mortes de 2006, passaram a administrar as biqueiras dos filhos. Até hoje o movimento busca responsabilização da servidora.
Segundo as investigações, a chacina foi praticada para vingar a morte do PM Admilson Pereira de Oliveira, em 8 de agosto de 2015, e do GCM de Barueri Jeferson Luiz Rodrigues da Silva, no dia 13 do mesmo mês. Em 2019, o Ministério Público explicou que mensagens de WhatsApp foram fundamentais para ligar os acusados.
Até hoje, as mães lutam por justiça. No âmbito da reparação, o TJ acolheu três de 10 pedidos de indenização feitos por familiares das vítimas.