Justiça do RJ aceita denúncia e acusados de matar Marielle Franco se tornam réus

    Ministério Público denunciou o PM da reserva Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz por duplo homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio

    Queiroz (esquerda) teria dirigido o carro, enquanto Lessa atirou contra o carro de Marielle | Foto: Reprodução

    A Justiça do Rio de Janeiro aceitou denúncia feita pelo MP (Ministério Público) contra PM da reserva Ronnie Lessa, 48 anos, e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, 46, pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Agora réus, eles responderão por homicídio triplamente qualificado. Ambos negam participação no crime.

    Segundo a decisão do juiz Gustavo Kalil, do 4º Tribunal do Júri do Rio, considerou que eles agiram com três agravantes na prática dos homicídios: motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima. Os dois estão presos no presídio de Bangu, no Rio de Janeiro, mas serão transferidos “em caráter urgente e liminar” para uma penitenciária federal de segurança máxima. No ato da prisão, Lessa confessou ter sido avisado de que seria pego.

    Kalil aponta que a retirada de Lessa e Queiroz do estado é importante “para a garantia da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, evitando-se o cometimento de novos delitos e garantindo-se a paz social, vez que os acusados teriam, como argumentou o MP, ligações com suposta organização miliciana composta por policiais militares da ativa”. Eles ainda responderão pela tentativa de executar a assessora Fernanda Chavez, que sobreviveu ao ataque.

    Os dois foram presos na terça-feira (12/3) em operação da Polícia Civil fluminense e do Gaeco (Grupo de Ações Especiais e Combate ao Crime Organizado), do MP (Ministério Público). De acordo com as investigações, sinais de celulares e pesquisas na internet os ligam ao crime. Lessa seria o autor dos disparos, já Queiroz dirigia o automóvel de placa clonada.

    A denúncia do MP ainda aponta que Lessa tem propriedades que não equivalem ao seu poder econômico, como uma casa em condomínio fechado na Barra da Tijuca, mesmo local no qual o presidente Jair Bolsonaro também tem uma casa. O TJ ainda lista armas e dois automóveis, um no valor de R$ 150 mil, que seria uma caminhonete blindada.

    Ainda no documento, há a citação de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que aponta para um depósito na boca do caixa, em dinheiro, de R$ 100 mil, na conta de Lessa. A movimentação teria acontecido no dia 9 de outubro de 2018, dois dias após o primeiro turno das eleições presidenciais, que levou o agora presidente Jair Bolsonaro ao segundo turno contra Fernando Haddad.

    Os trabalho da DH (Delegacia de Homicídios da capital), liderados pelo delegado Giniton Lages, se basearam em uma denúncia anônima para ligar Lessa e Queiroz ao crime. Segundo a informação, teria sido encomendado por R$ 200 mil e, daí por diante, os investigadores usaram a quebra de sigilo telemático e telefônico para chegar até a dupla. Ronnie teria feito uma série de pesquisas na internet contra políticos de esquerda, como Marielle e Marcelo Freixo. Ainda buscou por armas e silenciadores.

    Uma ação de busca e apreensão encontrou 117 fuzis na casa de Alexandre Mota de Souza, amigo de Ronnie Lessa. Os policiais da DH não têm dúvidas de que o material bélico é de posse do PM da reserva, que acordou com o amigo o armazenamento das peças. Ambos negam.

    As duas defesas negam que ambos tenham participado do crime. O advogado Luís Carlos Azenha, que defende Élcio Vieira de Queiroz, garante que seu cliente não sabe de nada, mesmo posicionamento do defensor de Ronnie Lessa. “[Meu cliente] nega de forma veemente ter feito o crime e, por isso, é impossível confessar algo que não fez”, assegura o advogado Fernando Santana.

    Os dois advogados se posicionaram com cuidado sobre o caso junto à imprensa. Eles apontam que, sem informações detalhadas da denúncia, explicações mais detalhadas podem prejudicar o processo de defesa ao longo do processo na Justiça.

    Concluída a denúncia, as investigações partem para a segunda etapa, na qual será apurado se há um mandante para o crime, resposta cobrada pela sociedade nas ruas no dia em que completou um ano do crime. Estes trabalhos não terão à sua frente o delegado Giniton Lages, responsável pela apuração que chegou a Lessa e Queiroz. Ele será enviado pelo governo do RJ para um intercâmbio na Itália. Há críticos de que os apontamentos da DH e do Gaeco são de um “amadorismo que não é compatível com quem realmente é um criminoso contumaz”.

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