Operação conjunta de PM e GCM ocorre um dia após prefeito Bruno Covas (PSDB) fechar último abrigo da Luz, no centro de SP
Uma operação conjunta entre a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar um grupo de dependentes químicos e pessoas em situação de rua na região da Luz, no centro de São Paulo, nesta quinta-feira (9/4).
A ação aconteceu um dia depois de a Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas (PSDB), fechar o Atende 2, último equipamento que fornece alimento, água e banho à população de rua no local. Ao menos 178 pessoas foram transferidas na manhã de quarta-feira (8/4) para uma unidade a três quilômetros da antiga tenda, na região do Glicério, inaugurado no mesmo dia. Algumas horas mais tarde, a Justiça de São Paulo determinou a reabertura do espaço, acatando solicitação da Defensoria Pública e do Ministério Público do Estado. Mesmo assim, a prefeitura, que vai recorrer da decisão, manteve a tenda fechada.
O Movimento A Craco Resiste, que trabalha na região, denunciou ação policial violenta no final da tarde desta quinta-feira (9/4). Vídeos publicados na página do coletivo mostram a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana cercando a rua Helvétia, a alameda Dino Bueno e a Praça Julio Prestes com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de bala de borracha em direção à população de rua que se aglomerava no local conhecido como “fluxo” (local de uso e venda de drogas).
Em uma das filmagens, um idoso aparece com um ferimento na perna e um dos moradores de rua afirma que outras pessoas também foram atingidas com balas de borracha. A reportagem retirou do vídeo as imagens em que o ferimento é mostrado aberto e sangrando por considerar forte demais.
“A Iope [Inspetoria Regional de Operações Especiais] entrou lá soltou bomba pra todo mundo, entrou sem dó. Não deixou a gente sair do fluxo e tem mais gente dessa forma machucada”, disse uma testemunha em vídeo gravado pela A Craco Resiste.
A situação de constante tensão na região se intensificou depois do anúncio do fechamento do Atende 2. Na terça-feira (7/4), a Defensoria Pública de São Paulo tinha entrado com uma ação civil pública argumentando que a desativação do espaço acarretaria riscos para essa população por conta da pandemia do coronavírus. Além disso, destacou que todas as recomendações sanitárias, inclusive referendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), indicam a necessidade de higiene, especialmente das mãos, como um dos principais elementos de prevenção.
O Ministério Público considerou o encerramento das atividades da tenda uma “tragédia humanitária”, destacando que na região circulam entre 500 a 700 pessoas pela manhã e que no período noturno esse número dobra. “O único local, em todo o centro da cidade, que presta relevantes serviços para a população mencionada é o denominado Atende 2. Não é preciso dizer que a população em tela é extremamente vulnerável a Covid-19, necessitando de serviços públicos na região”, pontua a promotoria no parecer.
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Nas ruas próximas à estação da Luz, prevalece a aglomeração de pessoas em situação de rua no “fluxo” e a desativação da tenda já vinha gerando apreensão nas pessoas que vivem nas ruas da região por temor à violência policial, constante no local, como mostrou reportagem da Ponte, no dia 20 de março.
Em nota, a InPress, assessoria de imprensa terceirizada da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, informou que, por volta das 16h20, como escreveu a gestão de João Doria, a PM prestou apoio à Guarda Civil durante ação de limpeza na Rua Helvétia. A pasta disse que os policiais não fizeram uso de “munição química ou disparos de elastômero”.
Gestão Covas mente em nota
A reportagem procurou as assessorias de imprensa da prefeitura e da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, que responde pela GCM. Em nota, a Guarda Civil Metropolitana informa que estava apoiando os serviços de zeladoria de rotina, quando, por volta das 15h45, houve “o princípio de tumulto após a movimentação de usuários”.
“Para evitar que pessoas se acidentassem foi necessário o uso de material de efeito moral. A ordem foi restabelecida sem feridos ou detidos”, diz a pasta.
(*) A Ponte evita usar a expressão “cracolândia” para se referir a regiões ocupadas por pessoas pobres no bairro da Luz, em São Paulo, ou em outros locais, por considerá-la imprecisa e preconceituosa. As pesquisas mais amplas sobre o tema, como a Pesquisa Nacional sobre o Crack feita pela Fiocruz em 2016, apontam que as causas da situação de vida dessas pessoas estão muito mais relacionadas com a pobreza e a exclusão social do que com o uso de alguma substância. Entenda: ‘Repórteres que falam em Cracolândia são uma fraude’, diz Carl Hart.
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