Entidade internacional de direitos humanos aponta série de informações ‘contraditórias’, questiona imparcialidade e demora nos trabalhos; recentemente a PF foi acionada pelo governo federal
Oito meses se passaram desde os tiros que silenciaram Marielle Franco e Anderson Gomes no Estácio, centro do Rio de Janeiro. Era o dia 14 de março de 2018. Até agora, 14 de novembro, o crime não está solucionado e as investigações não caminham, conforme crítica da Anistia Internacional.
A entidade internacional de direitos humanos divulgou documento nesta quarta-feira (14/11) questionando o motivo da demora para se finalizar os trabalhos. E, principalmente, cobra a criação de um monitoramento externo sobre o que está sendo feito para solucionar o crime.
Desde a execução, uma série de detalhes sobre o crime foram divulgados na imprensa. É por meio deste emaranhado de detalhes que a Anistia classifica haver uma série de “contradições” entre tudo o que foi dito até o momento. Um dos primeiros apontamentos era para a participação de PMs no crime, que teria sido encomendado por um vereador e tramado por um ex-PM.
São citados os armamentos usados nos assassinatos (inicialmente uma pistola 9mm e, depois, alterado pela Polícia Civil carioca para uma submetralhadora HK-MP5); as cápsulas 9mm da empresa CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) oriundas do lote UZZ-18, originalmente da Polícia Federal; os carros e celulares usados pelos criminosos e as câmeras públicas de segurança que estavam desligadas.
“É chocante olhar para tudo o que já foi divulgado sobre as investigações do assassinato de Marielle Franco ao longo de oito meses e ver que o padrão foi de inconsistências, incoerências e contradições”, critica Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional no Brasil.
Ainda de acordo com o documento da Anistia, parte dos procedimentos investigativos apresentou falha: não ter sido feito exame de Raio-X nos corpos de Marielle e Anderson “por falta de equipamento”; a Polícia Civil ter guardado de forma errada o carro em que ambos estavam (o deixando exposto), PMs terem mandado testemunhas do crime embora da cena e um suspeito estar sendo coagido pela polícia a assumir o crime.
“As autoridades não respondem às denúncias graves que vieram à tona e, quando se pronunciam, parecem não se responsabilizar pelo que dizem. Marielle era uma figura pública, uma vereadora eleita. Seu assassinato é um crime brutal e as autoridades não estão respondendo adequadamente”, continua a coordenadora.
Após 245 dias do assassinato da vereadora e do motorista, a informação mais recente que se tem é o pedido de que a Polícia Federal atue investigando quem está à frente dos trabalhos sobre o crime por pedido da procuradora-geral da república, Raquel Dodge, atendido pelo ministro da segurança, Raul Jungmann. A suspeita é de que a demora em apresentar resultados seja proposital.
“Esse cenário de informações contraditórias, perguntas sem respostas e a possibilidade de que agentes do estado estejam envolvidos no crime reforçam a necessidade de que seja estabelecido com urgência um mecanismo externo e independente para monitorar as investigações do assassinato de Marielle e Anderson”, cobra Renata Nader.
A família de Marielle segue firme em busca de respostas. “Temos recebido muito acolhimento e solidariedade por parte das pessoas, tanto no Brasil como no exterior, e nossa família está cada vez mais unida”, diz Marinete da Silva, mãe de Marielle. “Oito meses se passaram e tudo o que a gente quer hoje é que se descubra quem matou e quem mandou matar a minha filha”, completa.