PCC pagava a amantes e mulheres para serem ‘pombos correios’ de presos

    Operação Ethos, do MP, que investiga advogados a serviço do PCC, aponta que mulheres recebiam R$ 500 por semana para buscar e levar cartas das prisões

    Um setor do PCC (Primeiro Comando da Capital), denominado “Correios”, pagava semanalmente R$ 500 para familiares de presos atuarem como “pombos correios” da facção, segundo uma investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do MPE (Ministério Público Estadual). Nesta quinta-feira (10/5), o MPE e a Polícia Civil prenderam oito pessoas acusadas de buscar e levar cartas de presídios com recados dos membros do grupo.

    Os oito mandados de busca e apreensão fazem parte de uma nova fase da Operação Ethos, deflagrada em 2016, que investiga a atuação de advogados a serviço da facção. Quatro dos mandados valiam para a capital paulista e os demais foram cumpridos nos municípios de Sumaré, Itaquaquecetuba, Taubaté e Itapecerica da Serra, todos no interior.

    O MP determinou a prisão de Fernando Alves de Oliveira; Luciane Pereira e Oliveira; André Francisco de Souza, o Boy; Alessandra Almeida Silva dos Reis; Luzia da Silva; Márcia Aparecida de Lima Pereira; Michele Aparecida Lima Norato e Simone Ferreira dos Santos. A Ponte não conseguiu entrar em contato com seus advogados.

    Segundo a investigação, o setor “Correios” do PCC tinha como finalidade buscar ordens e recados de presos dentro da Penitenciária II de Presidente Venceslau, onde estão os líderes da facção, e do Presídio de Avaré.

    O MP aponta que Fernando era o gestor deste grupo, atuando junto de Luciane e respondendo a Marcela Antunes Fortura (presa anteriormente na Operação Ethos), integrante do grupo formado por advogados, denominado “Sintonia dos Gravatas”. Ele é quem receberia as cartas pegas pelos familiares e daria os encaminhamentos.

    Para obter as mensagens, Fernando selecionava esposas e amantes de presos e pagava semanalmente R$ 500 pelo serviço de “pombo correio”. De acordo com os promotores, Alessandra, Luzia, Márcia, Michele e Simone faziam esta função de coleta e entrega das cartas para André, denominado nas investigações como “office-boy” do setor, com “salário” de R$ 1,2 mil por mês.

    André levava os papéis até Fernando, que repassava para Marcela e Anna Fernandes Marques, responsáveis pelas análises dos conteúdos e encaminhamentos, que podiam ser ações práticas ou respostas com novas cartas a serem levadas pelas mulheres “pombos correios” de volta aos presos.

    “Cumpre ressaltar que esse esquema criminoso é imprescindível para o funcionamento da organização criminosa, notadamente após a prisão dos advogados que exerciam essa mesma atividade, mas por meio das informações em parlatórios”, sustenta o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, sobre a prisão de mais de 54 envolvidos na Operação Ethos, anteriormente os responsáveis pela comunicação entre os membros do PCC.

    CPI Operação Ethos/Condepe

    Durante a Operação Ethos, o MP descobriu o envolvimento do então vice-presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Luiz Carlos dos Santos, com a Sintonia dos Gravatas. Segundo os trabalhos, Luiz Carlos recebia R$ 5 mil por mês da facção para criar notícias falsas sobre maus-tratos aos presos.

    Santos foi condenado a cumprir 16 anos e dois meses de prisão na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau. A prisão do vice-presidente levou a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) a criar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) Operação Ethos/Condepe, que, nesta quarta-feira (9/5), ouviu o próprio Santos.

    Em seu depoimento aos deputados, Santos reconheceu que foi uma “falha” aceitar o trabalho para o PCC e disse que “não conseguiu sair do esquema”.

    Luiz Carlos disse não ter envolvido outros membros o Condepe na ação criminosa e que ele e seus familiares estão recebendo ameaças de morte. “Temo pela minha vida. Posso ser morto pelo PCC ou outra facção”, disse, durante o depoimento.

    Em fevereiro de 2018, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo MP como líder do PCC, foi condenado a 30 anos de prisão por chefiar a “Sintonia dos Gravatas”. Segundo a decisão do juiz Gabriel Medeiros, da 1ª Vara de Presidente Venceslau, 300 mil e-mails serviram de prova para a decisão, com tentativa de cooptação de um desembargador do TJ-SP (Tribunal de Justiça de SP) e um delegado da Polícia Civil do Estado para atuarem a favor do crime organizado.

    Além de Marcola e do ex-vice presidente do Condepe, outros seis advogados foram condenados em decorrência da Operação Ethos. Em 2017, a advogada e ex-repórter de TV Luana de Almeida Domingos, conhecida como Luana Don, também foi presa sob acusação de participar do grupo. Seu pai nega as acusações e afirma que ela “nunca pisou em um presídio”.

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