Investigação sobre morte de João Victor, em fevereiro de 2017, aponta que funcionários do restaurante não tiveram culpa direta na morte, causada por parada cardíaca; MP sustenta a tese, mas pede mais garantias
Marcelo Fernandes de Carvalho cobra há mais de dois anos justiça pela morte do seu filho. Em 26 de fevereiro de 2017, João Victor Souza de Carvalho, 13 anos, morreu em frente à unidade do restaurante Habib’s, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo. Ele havia sido perseguido por dois funcionários. Desde então, uma investigação se arrasta no 28° Distrito Policial (Freguesia do Ó), da Polícia Civil paulista. Até agora, nenhuma definição.
Em novembro de 2018, o delegado do caso, Nicola Romanini, havia fechado a investigação com o resultado de que não havia nenhum culpado pela morte do garoto. Dois laudos, um do IML (Instituto Médico Legal) e outro do IC (Instituto de Criminalística), apontaram a causa da morte como parada cardíaca atrelada ao uso de drogas, como lança-perfume, descartando a tese de que as possíveis agressões dos homens o mataram. Antes de morrer, João Victor foi perseguido pelos dois funcionários da rede.
O MP (Ministério Público) recorreu e pediu mais diligências (leia o documento aqui), reabrindo os trabalhos no 28 DP. Para o promotor Everton Zanella, restava “sanar qualquer dúvida sobre a possibilidade de que tais agressões possam ter, de alguma forma, contribuído ou acelerado a morte do garoto”. A dupla é flagrada arrastando o garoto, aparentemente já desmaiado.
Para tal, solicitou informações do Copom da Polícia Militar sobre ligações feitas pelos funcionários pedindo socorro ao garoto, o que nunca foi entregue ao delegado; boletins de atendimento médico realizado pelo Samu; e prontuário médico de João Victor no hospital do Mandaqui, onde ele foi socorrido. Em 18 de abril de 2018, a Justiça de SP determinou o afastamento de três conselheiros tutelares por negligência. O trio atuava na região onde João Victor vivia com o pai, na Vila Nova Cachoeirinha.
A demora em obter respostas faz Marcelo questionar todo o trabalho de investigação da polícia. “Mais prova do que já tem? Tem testemunha! Se o delegado fez o papel dele errado, o problema é dele. Todo mundo sabe, se um delegado fizer o seu trabalho direito, beleza. E ele tem que fazer o papel dele. Quero justiça. Não vai ter fim enquanto não resolver a morte do meu filho”, critica o pai, à Ponte.
Para o MP, responsável por fiscalizar a atividade policial, seja em policiamento ostensivo (PM) ou investigatório (Polícia Civil), está claro que os seguranças não tem ligação direta com a morte. “A perícia é conclusiva no sentido de que a causa principal da morte foi a cardiopatia (resultante do uso de drogas), mas o MP está tomando todas as cautelas possíveis para verificar se as agressões podem (ou não) ser uma causa concomitante (isto é, o menino teria tido a cardiopatia se não tivesse sido agredido?)”, explica o promotor Zanella.
Para o pai, o poder financeiro falou mais alto nessa questão. Tempos após a morte, os advogados da família denunciaram que o Habib’s ofereceu R$ 100 mil para que eles não levassem o caso para frente. “Não é assim. Mata uma criança, arrasta e eles não são culpado porque têm dinheiro? Creio que o MP não dará o braço a torcer. Prova técnica tem, testemunha também, tem imagem e querem falar que eles são inocentes por matar uma criança, que arrastaram igual cachorro, um saco de batata? Não acho justo, minha revolta é com isso. Saíram dando risada da minha cara, contente com a desgraça dos outros”, diz.
Procurada pela reportagem, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado de São Paulo, chefiada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), explicou que o inquérito “foi relatado ao Fórum em novembro de 2018, tendo retornado agora para anexação de nova cópia do relatório e, em seguida, ser devolvido à Justiça”, informa.