Após ataques de youtuber pré-candidato, padre Julio Lancelotti recebe ameaças

    Religioso que atua com população de rua denuncia ataque de motoqueiro: ‘padre filho da puta que defende noia!’

    O padre Julio Lancellotti, que atua junto à população em situação de rua na cidade de São Paulo, denuncia ter sido alvo de mais uma ameaça na manhã desta terça-feira (15/9). Por volta de 10h30, um motoqueiro o intimidou enquanto trabalhava em uma praça da Mooca, zona leste da capital paulista.

    Em vídeo, Julio descreve que o homem passou de moto e gritou “padre filho da puta que defende noia!”. O ataque surge depois de lives feitas por pré-candidatos à disputa municipal mostrando operações da GCM (Guarda Civil Municipal) na região da Luz, onde há concentração de pessoas em situação de rua.

    À Ponte, o religioso explica que irá ao 8º DP (Belém) durante a tarde de terça para conversar com o delegado. A tentativa é de encontrar provas, como imagens de uma câmera de segurança de um comércio local. “Dependendo da abertura dará para ver a moto”, explica.

    Leia também: Padre Júlio Lancellotti: ‘Quando um morador de rua morre, tentam culpá-lo. Mas ele é vítima’

    Segundo Julio, o youtuber e deputado estadual Arthur do Val (Patriota), conhecido como Mamãe Falei, tem o perseguido nas redes sociais. O político é um dos que usa a questão social da Luz como foco principal de sua campanha à prefeito.

    “Depois de ataques de alguns candidatos à Prefeitura contra mim, eu estou cada vez mais em risco. Se me acontecer alguma coisa, se alguém me atingir, vocês sabem de quem é a culpa, quem cobrar”, diz Julio, no vídeo.

    Na conversa com a reportagem, ele afirma que as perseguições de Arthur potencializam a reação violenta contra a população de rua. “Ele é que me ataca. Nem cito o nome dele. Nossa, olha o Instagram dele para ver tudo o que põe contra mim”, afirma o padre.

    Na rede social, Arthur do Val tem um vídeo em que promete “desmascarar” o pároco. “Até quando esse cafetão da miséria vai achar que é dono da verdade enquanto milhares de brasileiros sofrem com a cracolândia?”, ataca Arthur.

    O padre questiona o fato dos dois candidatos “flagrarem” de forma repetida ações de repressão na região da Luz. Ainda destaca a presença de Carlos Alexandre Braga, ex-comandante da GCM de São Paulo e candidato a vereador também pelo Patriota, companheiro de Mamãe Falei nas lives.

    “Eles estão sempre por acaso nas operações? É estranho. Ou eles moram ou ali ou é impressionante a agilidade de estar sempre na hora da operação”

    Julio afirma que tanto a GCM quanto a PM (Polícia Militar) têm o povo de rua como alvo “permanente e contínuo”, com maior agressividade desde as recentes lives. “A GCM e a PM estão fora do controle do poder executivo, municipal e estadual. É impressão que tenho”, diz.

    Leia mais: Pedro Casaldáliga ‘será imortal, porque quem ama não morre’, diz Júlio Lancelotti

    Não é a primeira vez que Padre Julio é alvo de ameaças pelo trabalho feito junto às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em março de 2018, ele recebeu uma onda de ataques virtuais prometendo que ele seria morto.

    Em setembro daquele ano o religioso denunciou ter sido ameaçado e cuspido por um guarda durante ação na zona leste. “Disseram: ‘vamos dar um fim nesse padre’ e ameaçaram voltar”, detalhou, à época.

    A CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), braço da OEA (Organização dos Estados Americanos), cobrou que o Brasil dê proteção à Julio. Segundo ele, a oferta é prejudicial a seu trabalho.

    Leia também: Morador da Mooca divulga endereço e tira foto da casa para intimidar padre

    “Ofereceram escolta, mas eu não quero. Como vou ser escoltado por PMs e trabalhar com a população de rua com gente da tropa que os ataca?”, questiona. Segundo ele, a defesa que seria efetiva é a da população de rua. “Se eles têm casa, têm comida, eu estou protegido”.

    A Ponte solicitou posicionamento à assessoria de imprensa do deputado Arthur do Val sobre as falas de Padre Julio Lancellotti e, também, sobre a denominação “cafetão da miséria” usada pelo deputado ao se referir ao religioso. Em resposta, a assessoria enviou o vídeo abaixo:

    Atualização às 10h05 de quarta-feira (16/9) para incluir vídeo do deputado youtuber Arthur do Val.

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